ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A rede Caleidoscópio e os Estudos Feministas de cinema |
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Autor | Karla Bessa |
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Resumo Expandido | Neste ano de 2022, vimos a constituição de uma Rede Nacional de Estudos e Pesquisas Feministas, Transfeministas, Antirracistas, Transdisciplinares e Decoloniais. Pelo próprio ato de nomeação da rede, percebe-se que há ao mesmo tempo continuidade e transformações na compreensão e nas políticas de fomento do debate feminista no âmbito acadêmico do país. A urgência em promover um espaço de organização política e intercâmbio conceitual se fez premente diante dos vários efeitos de desmonte das instituições públicas e privadas de pesquisa do país e da desqualificação e perseguição aos estudos de gênero e dissidências sexuais, que haviam se afirmado em vários campos do saber, incluindo mais recentemente nos estudos sobre cinema. Nesta comunicação, apresentarei os objetivos, escopo e organização da Caleidoscópio e em conjunto, uma avaliação crítica do modo como minha própria trajetória acadêmica e pesquisas foram se constituindo no campo maior dos Estudos de Gênero do país. Por exemplo, em 1998, enquanto editora de um dos números da Cadernos Pagu, que comemorava seus primeiros cinco anos de existência, propusemos realizar um balanço dos usos da categoria gênero nos diversos campos disciplinares (psicologia, antropologia, sociologia, história, literatura e linguagem, educação), e o trabalho crítico epistemológico que a categoria promoveu nos denominados Estudos de Mulheres. Foi também neste número que traduzimos, pela primeira vez, um artigo de J. Butler (1998), a fim de promover o debate sobre as teorias e políticas identitárias, a perspectiva essencialista que predominava nos Estudos de e sobre mulheres. Retomar esta trajetória pode nos ajudar a pensar o estado atual dos E. Gênero e de cinema? Em 1992, a REDOR (2014) a primeira Rede a ser formada a ser formada no país incorporou nos seus 14 GTs de trabalho a relação entre Gênero e artes (cinema, fotografia, artes plásticas, teatro, música, dança), contudo, o objetivo de fomentar o debate nestas respectivas áreas ainda era tímido. O que isso nos sugere pensar? Num primeiro momento, torna-se visível um descompasso entre as trajetórias de outras áreas de conhecimento e a instituição de pesquisas na área do cinema. Talvez, uma hipótese a ser pensada, a dificuldade de aproximação dos estudos de cinema das perspectivas críticas feministas e queer no Brasil também seja um reflexo do lugar da subjetividade feminina e queer na produção e direção e nas próprias academias de cinema do país. Quais caminhos as críticas feministas do cinema e das teorias cinematográficas percorreram no Brasil? Como os debates sobre as categorias mulheres, gênero, colonialidades foram incorporadas nos cursos de graduação e pós em cinema e audiovisual? Como hoje se institucionaliza no Brasil os estudos feministas, queer e negros no campo dos estudos cinematográficos? Nossa intenção não é a de trazer respostas, mas fomentar o debate, na medida em que é fundamental pensarmos na organização política e institucional deste campo de estudos. Algo que só é possível realizar coletivamente e ultrapassa o mero registro de pioneirismos com vistas a ungir novos cânones. O que propomos, nesta mesa temática, é a questão de como podemos agregar, de diferentes trajetórias, o legado dos Estudos Feministas aos debates sobre cinema. Quais heranças reivindicar ao construir novos horizontes, quais devemos rever ou abandonar? Qual o legado das contribuições aos estudos de cinema por autoras hoje consideradas clássicas, como K. Silverman, T. Lauretis, Mary A. Doane, Ruby Rich, bell hooks, L. Mulvey, M. Haskell, que releram gêneros cinematográficos, provocaram diálogos entre semiótica e psicanálise, ou interpelaram os estudos pós-estruturalistas e as bases do conhecimento, ou seja, as epistemologias e as ontologias por elas desenvolvidas sobre o filme, sua diegese e seus impactos no campo das representações e representatividades. Por fim, como a interlocução com uma rede nacional nos possibilitará pensar nosso próprio campo? |
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Bibliografia | Bessa, K. Cadernos Pagu Número 11, 1998. Campinas, Brasil. |