ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | As temporalidades narrativas em Palace II e Cidade de Deus |
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Autor | LUCAS FURTADO ESTEVES |
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Resumo Expandido | O curta-metragem é um gênero muito menos difundido que o longa. Em termos comerciais, por não estrearem nas salas e não venderem ingressos, os curtas não geram lucro para aqueles que os produzem e, portanto, não recebem atenção dos investidores e nem dispõem de orçamentos elevados. Na pesquisa acadêmica que investiga obras cinematográficas, embora haja alguma exploração desse campo, o longa-metragem é também muito mais valorizado. Há nisso uma grande perda. Os curtas-metragens exercem total influência sobre a produção de cinema como um todo, uma vez que são o espaço ideal para a experimentação de novas linguagens. Em função de pesquisas de maior fôlego não investigarem a construção de curtas-metragens, nota-se que há um déficit de bibliografias a respeito desse formato. Embora haja uma série de artigos, monografias, dissertações e teses que têm como objeto de pesquisa os filmes curtos, não existem discussões teóricas mais amplas que busquem compreender quais as especificidades narrativas de um curta-metragem e no que elas se diferem dos longas. Ou seja, enquanto os principais livros que discutem a linguagem cinematográfica dão foco aos filmes de longa-metragem, é raro encontrar reflexões que pensem sobre as dinâmicas específicas do curta. Nesse sentido, torna-se fundamental que uma investigação mais ampla a respeito das estruturas narrativas do curta-metragem seja realizada. O apontamento mais comum a ser feito a respeito da diferença entre curtas e longas-metragens é a respeito de sua duração. Enquanto o longa-metragem costuma possuir entre uma hora e meia e duas de duração, o curta raramente ultrapassa os vinte e cinco minutos. Mas quando falamos da diferença de temporalidade entre os dois formatos, o que exatamente essa diferença significa? Ao fazer apontamentos sobre a fenomenologia da narração, Christian Metz (2019), afirma que toda narração possui um início e um fim, o que indica que ela é, então, uma sequência temporal. O autor ainda define que, quando observamos uma narrativa cinematográfica, podemos dividi-la em duas temporalidades distantes. Há o tempo da coisa-contada e o tempo da narrativa. Ou seja, há o tempo do significado e o tempo do significante. E é essa a dualidade que torna possível realizar distorções temporais, como mostrar anos da vida de um personagem em duas cenas ou fazer com que um segundo, dure longo tempo. Nesse sentido, é possível afirmar que a diferença mais evidente entre o curta o longa metragem diz respeito a duração da obra, ou seja, o tempo de significante. Mas, no que diz respeito às possibilidades de se distorcer o tempo do significado, a partir de elipses temporais e idas e voltas no tempo, há alguma diferença entre ambos? E, um questionamento ainda mais importante, uma vez que o tempo de significante é muito mais reduzido em uma obra de curta-metragem, é possível construir conflitos complexos e personagens densos nesse formato cinematográfico? Para responder essas perguntas, esse trabalho pretende comparar a construção narrativa do curta-metragem Palace II (2001), de Fernando Meirelles, com o longa-metragem Cidade de Deus (2002), do mesmo diretor, de modo a compreender como a temporalidade de significado se constrói em ambas as obras. Como se sabe, o curta deu origem ao filme, já explorando em sua história aspectos que seriam utilizados na construção do curta-metragem. Nesse sentido, justifica-se uma comparação entre ambos, uma vez que, em diferentes formatos, um mesmo universo se constrói. Com o intuito de observar a construção temporal, investigaremos, acima de tudo, a montagem dos filmes, mobilizando textos como O sentido do filme (1990), de Sergei Eiseinstein e Estética da Montagem (2010), de Vincent Amiel. Ademais, para observar aspectos da temporalidade narrativa no cinema, além do livro de Christian Metz (2019), utilizaremos as reflexões de Jost e Gaudreault em A Narrativa Cinematográfica (2009) e as considerações a respeito de tempo na narrativa de Gerard Genette (2017). |
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Bibliografia | AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010 |