ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | O inimigo invisível: memórias de um futuro pandêmico |
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Autor | Letícia Xavier de Lemos Capanema |
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Resumo Expandido | A história da visualidade do mal microscópico - provocado por vírus, germes e bactérias – relaciona-se diretamente à história das técnicas de observação e de representação visual (CRARY, 2012). Os diversos aparelhos criados para prolongar a capacidade do olho de perceber o mundo visível, desde as primeiras lupas até os modernos microscópios, bem como os regimes de representação visual, anteriores e posteriores à perspectiva renascentista, chegando à emergência da fotografia, do cinema e de outras formas correlatas de “realismo”, têm pautado o imaginário coletivo referente a epidemias e pandemias. Na representação do mal que não se vê, as formas expressivas audiovisuais atuam ao materializr visualidades e sonoridades, factuais e ficcionais, de um inimigo imperceptível a olho nu. Há mais de um século, a cultura audiovisual têm contribuído para a construção desse imaginário, povoando de imagens e sons a experiência da contaminação dramatizada à exaustão nas mais diversas telas. Como observou Susan Sontag (2020), os filmes de ficção científica não tratam de ciência. Tratam da catástrofe. No cinema catastrófico, o prazer do público se encontra na contemplação do desastre, apreciado à distância e com segurança. No entanto, em 2020, a eclosão da pandemia de covid-19 provocou uma espécie de choque entre o imaginário e a realidade pandêmica. “O mundo ameaçado por coronavírus não se parece com filmes apocalípticos de Hollywood”, diz o filósofo Slavoj Zizek (2020). “Precisamos urgentemente de novos roteiros, novas histórias que forneçam uma espécie de mapeamento cognitivo, uma noção realista e ao mesmo tempo não catastrófica de onde deveríamos estar indo. Precisamos de uma nova Hollywood pós-pandêmica” (ZIZEK, 2020). Neste estudo, busca-se refletir sobre a visualidade de inimigos invisíveis (vírus, germes e bactérias) não apenas como decorrência de técnicas e regimes estéticos de representação, mas sobretudo como construção narrativa e como sintoma de aspectos discursivos e políticos. As formas de representação da presença deletéria daquilo que não se vê são reveladoras de relações de poder que atravessam as realidades sócio-políticas de epidemias e pandemias. A ameaça do terror microscópico (quanto mais invisível, mais assustadora é a ameaça) torna-se terreno fértil para que se prolifere discursos fanático-religiosos, xenófobos e segregadores que, na falta de um vilão personificado, elegem inimigos de conveniência (o estrangeiro, o adversário político, o outro). A partir de um breve percurso sobre o modos de representação de inimigos invisíveis, propõe-se analisar produções audiovisuais (catastróficas e pandêmicas) que precedem e que são concomitantes à crise sanitária de covid-19. Parte-se da ideia de que “filmes fornecem importantes insights dentro da composição psicológica, sociopolítica, e ideológica de uma sociedade e cultura em um determinado ponto da história” (KELNNER, 2016). Assim, são discutidos dois grupos de produções audiovisuais. O primeiro compreende os filmes “Contágio” (Steven Soderbergh, 2011) e Flu (Kim Sug – Su, 2013) – grandes produções do cinema catástrofe realizadas poucos anos antes da eclosão da crise sanitária de 2020. O segundo grupo congrega produções realizadas durante o período mais acirrado da crise do coronavírus, como “Me cuidem-se! Um filme processo” (Cavi Borges, 2020) e a série “Homemade” (Pablo Larraín, 2020) - obras que revelam outras estéticas, narrativas e modos de produção submetidos às restrições de biossegurança, acionando estratégias, como a produção caseira (elenco e equipes reduzidas, narrativas circunscritas ao espaço doméstico), o screenlife (uso das telas de dispositivos como recurso visual e narrativo), e as equipes remotas (produções remotamente colaborativas). Por meio da análise comparativa entre esses dois grupos, tão distintos, de produções audiovisuais, discute-se as formas contemporâneas pré e pós pandêmicas de narrar e representar o inimigo invisível. |
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Bibliografia | BUTCHER, Pedro. Cinema catástrofe, prazer estético e política. Revista Contracampo: Niterói, s/d. |