ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Natureza expandida – rumos do cinema experimental etnográfico |
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Autor | Lucas de Castro Murari |
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Resumo Expandido | A etnografia como disciplina científica teve um papel constituinte no pensamento moderno, fruto do humanismo que marcou o século XIX. Esse contexto é marcado por uma sistematização racional do conhecimento sobre o próprio sujeito humano. Como reflexão geral, a antropologia, bem como a etnografia, têm buscado diálogos com outras áreas empíricas do saber, tais como a filosofia, a linguística, a semiótica; ou campos práticos tais quais a estética, a história da arte ou a crítica literária. Mais recentemente, no século XX, aflorou um segmento calcado no estudo da produção imagética e/ou relacionada a aspectos visuais. Criou-se assim alternativas à etnográfica clássica essencialmente textocêntrica. Um elemento diferenciativo da antropologia visual é sua potencialidade polissêmica como construção científica, retórica, artística e poética. As ciências, assim como as artes, buscaram desenvolver formas de presentificar a complexidade do mundo. O cinema etnográfico é um ponto de destaque nessa história permeada de paralelismos. Destacamos aqui duas vias dessa grande produção: ligadas ao cinema experimental e as vanguardas artísticas. Muitas vezes, a imagem, nesses contextos, é utilizada como ferramenta de pesquisa, de invenção de formas e linguagens, ou seja, a obra é tratada como laboratório. Seguir por essa linha significa não privilegiar a dimensão narrativa e descritiva tão cara ao filme etnográfico, mas explorar um tratamento outro, investigando elementos referentes às múltiplas perspectivas, à polifonia, à reflexividade, à intertextualidade, à percepção e à observação, por exemplo. Esse horizonte expande significativamente o trabalho artístico e etnográfico. Em última instância, cria-se uma experiência visual e/ou sonora radical. O crítico Hal Foster reconhece uma virada etnográfica na arte e na teoria contemporânea. Percebe assim uma série de práticas artísticas, curatoriais, exposições e eventos que têm abordado semelhanças significativas entre os dois campos. O artista, nesse novo momento, se debruça sobre o outro cultural e/ou étnico, seja ele o sujeito subcultural oprimido, o subalterno, o pós-colonial, e não mais o outro definido pelos termos socioeconômicos (o proletariado explorado) que marcaram certa arte política anterior. É no final do século XX que esse crítico de arte norte-americano reconhece o valor da etnografia como fator de impacto no âmbito das artes, indo inclusive além, como uma discussão-chave das ciências sociais como um todo. O firmamento dos estudos culturais e pós-coloniais no meio acadêmico é reflexo disso. Se, em meados do século XX, era o antropólogo que tinha uma espécie de inveja do artista, como é o caso, por exemplo, dos cânones do cinema etnográfico – Gregory Bateson, Jean Rouch, Timothy Asch, todos antropólogos de formação –, com a virada etnográfica, a antiga inveja trocou de posição: o desejo pela etnografia consome os artistas. Mais recentemente, uma das questões que tem marcado essa produção etnográfica e artística diz respeito a ampliação da ideia de sujeito, estabelecendo alianças e intercessões com outros elementos do mundo. A natureza, nesse sentido, tem recebido um papel de destaque, sendo abordada como elemento ontológico e estético. Essa pesquisa busca enfatizar aspectos dessa produção, se concentrando no cinema experimental contemporâneo. |
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Bibliografia | BAUMGARTEN, Lothar. Status Quo. Artforum international, Nova York, v. 26, n. 7, , 1988. |