ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Entre Barra e Bacurau: Caminhos de uma Antropologia do Cinema |
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Autor | Gabriela Lucena de Oliveira Coutinho |
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Resumo Expandido | O desenvolvimento da minha pesquisa de mestrado na Antropologia Visual é feito por meio da compreensão do filme enquanto ferramenta de observação, de criação de realidades sociais e de formulação de conhecimento sobre o mundo, sendo o filme aqui tanto o alicerce metodológico da pesquisa, uma etnografia visual, quanto um dos campos em que minha pesquisa se debruça. Nesta comunicação pretendo mostra um relato e reflexões teóricas ligadas ao desenvolvimento de minha pesquisa de mestrado, que busca a construção de uma antropologia fílmica atrelada a uma antropologia do cinema, trabalhando com as possíveis relações entre um filme, Bacurau (2019) e o povoado de Barra, onde grande parte do filme foi filmado. A relação entre cinema e antropologia não vem de hoje, ocorrem desde suas origens, formulando uma composição dialética onde a antropologia acompanhou o desenvolvimento do cinema enquanto linguagem, e vice-versa (BARBOSA, 2006; PIAULT, 2018). Os dois ocuparam espaços nos processos de expansão colonial do ocidente, na fomentação de um imaginário colonialista, trilhando caminhos parecidos no sentido ideológico. A antropologia enquanto disciplina e forma de pensamento corresponde a processos históricos e sociais, também se transformando enquanto formas de compreender o mundo e o fazer antropológico. É nesse lugar criativo, de elaborar culturas que a antropologia passa a ser compreendida pela potência política do imaginário, naquilo que Marilyn Strathern (2014) considera o potencial radical da antropologia: o de criar mundos. O cinema, também compartilha desse potencial, trabalhando tanto na fomentação de um imaginário eurocêntrico, como também podendo contestar tal imaginário, propondo uma ampliação crítica das formas de ser e estar no mundo, atuando na produção de memórias e imaginários de determinado povo. Tanto a antropologia quanto o cinema elaboram uma crítica anticolonial. Bacurau é constantemente remetido pela crítica à tradição cinema novista, a exemplo de um retorno e valorização de uma ideia de popular, do uso de atores não profissionais e de alegorias para expressar uma realidade subalterna nacional. Segundo Ivana Bentes (2019), o filme traça relações entre a Eztetyka da Fome e a Estética do sonho, de Glauber Rocha, em uma construção autoral que é feita no embate ao colonialismo, carregando as imagens de alegorias sangrentas. Para a pesquisa lanço mão de um repertorio de conceitos da antropologia do cinema e visual, dos estudos fílmicos e da filosofia da estética e da visualidade. Esse repertório me guia para construções interpretativas cabíveis em uma perspectiva cientifica de base qualitativa, localizada e contextual, tanto de Bacurau, quanto de Barra, onde imergi de maneira exploratória (FRANCE, 1998) e observacional mediada por câmeras na produção de imagens animadas e sons, buscando intersecções entre a experiência fílmica da própria pesquisa em Barra e experiência fílmica de Bacurau. A pesquisa vem investigando o que da experiência do filme (tanto espectatorial quanto da prática da produção) ficou nas narrativas de histórias de vida dos moradores do povoado, mostrando como a ficção cinematográfica, através de mecanismos de identificação, acabou por incorporar os imaginários dos moradores locais dando ferramentas para que eles fomentassem narrativas sobre suas próprias vidas; bem como, o que o filme incorpora na sua vivência e processo de realização no povoado. Por agora chego à conclusão de que para além de seus atributos topográficos, Barra e sua gente deu o tom e cor ao filme. Os moradores tomam a cena como figurantes fazendo da “imagem um lugar comum aí onde reina o lugar-comum das imagens do povo” (Didi-Huberman, 2017, p.28). Nesse sentido creio que o filme Bacurau se alimentou dos modos de existência do povoado, assim como os moradores de Barra se alimentaram da experiência com o filme, reelaborando formas de se narrar e de perceber o próprio espaço que habitam. |
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Bibliografia | BACURAU. Direção: Kleber Mendonca Filho, Juliano Dornelles. Pernambuco: Vitrine Filmes, 2019. (132 min) |