ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Gesto, Corpo e Cena de um cinema realizado por mulheres |
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Autor | Rúbia Mércia de O.Medeiros |
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Resumo Expandido | O percurso formativo do curso básico Narrativa de Cinema por Mulheres aconteceu de forma remota, através do Programa de Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim, que se situa na periferia da grande Fortaleza. A formação teve como objetivo acolher e também recolher histórias de mulheres maiores de 30 anos, mulheres com desejos de conhecer o audiovisual, e ter através desta linguagem a possibilidade de narrar suas tantas experiências, experiências essas que culminam numa vivência coletiva, num gesto político de juntar, mobilizar e movimentar a memória que vagueia entre passado, presente reminiscente e presentificação de futuros. Através do gesto de escrita com imagem e som, compomos uma trajetória de formação audiovisual realizado por mulheres. Os filmes e suas interlocuções entre gestos estéticos, políticos, históricos, como levantes dão pistas para um método de trabalho entre alguns movimentos de cinema com mulheres. Assim, lançamos a proposta de estabelecer um modo de escrita da imagem, para dar conta do espaço tempo do acontecimento do curso. Contudo, é através desta escritura, modos de tecer também uma análise fílmica, que nos conta de imagens de arquivos, imagens em luta, imagens que friccionam a relação entre o real e a fabulação. O ano de 2020 foi marcado pela redefinição das formas de estarmos presente - em espaços públicos e privados. Precisamos, naquele momento, re-significar os nossos modos de vida e as formas de se relacionar com presença e ausência de pessoas queridas. A pandemia da Covid-19 nos colocou em distanciamento social estendido, vivendo dias e noites isolados no espaço íntimo da casa. O isolamento nos trouxe muitos desafios para a vida de cada uma de nós, assim também, como muitas lutas e lutos. Durante a pandemia o número de feminicídio aumentou exorbitante, esse número foi disparador para muitas ações de defesa em nome da mulher. E foi, neste horizonte de lutas e resistência que tocamos esses encontros. Materializamos cenas possíveis através do encontro com a turma, com as mulheres. A curiosidade sobre a linguagem do audiovisual, não em sua forma técnica, mas sim a linguagem como abertura, como espaço livre para compor. Os encontros vinham sempre imbuídos de desejos/ desejo de imagem/ desejo de filme, desejo de constituir relação entre o corpo, máquina (celular), o autocuidado e narrativas de si. Para tanto, criamos um ambiente imersivo de diálogo com os espaços que cada uma delas habitavam- a casa, os inúmeros trabalhos/trabalho doméstico e seus modos de vida. A relação da casa e seu entorno foi orientação basilar para os encontros e voltada à sensibilização para os temas abordados. Aspectos como formulação de questões específicas para os arquivos, jogos entre contexto e descontextualização, construção de legibilidade e abertura interpretativa de uma imagem foram aprofundados nesta experimentação. O cinema ensaístico aqui, como lugar do risco, da incerteza. O olhar sensível de cada uma das alunas, que atentas a seu modo singular de filmar, construíram através de dispositivos de criação, alguns relatos, vídeos, sons e fotografias, sendo através deste material que perpassam essa história. Nos nortearemos com algumas autoras, que juntas, também traçam tramas e vestígios- as diretrizes que Bell Hooks (2019) pontua em seu livro Olhares Negros, raça e representação nos oferece pistas preciosas de como seguir na história do cinema com a questão do olhar para os corpos negros. As questões de gênero, sexualidade, raça e classe, circundaram as aulas e foram pouso também em nossas discussões. Dentro da teoria feminista elencamos dois eixos de contribuição: de um lado autoras que desenvolvem os conceitos mais gerais ligados a abordagem de gênero e aos lugares de fala, de outro, autoras ligadas a teoria do cinema que operam num horizonte da teoria feminista em relação com a psicanálise, a estética, as teorias narrativas e a análise fílmica. |
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Bibliografia | ALVARENGA, Clarisse. Práticas do vídeo ao alcance das mãos: Os Arara, TV Viva, e TV Maxambomba. In: Catálogo 15a Mostra de Cinema de Ouro Preto, p.40-45 – 1. Ed. – Belo Horizonte: Universo Produção, 2020. |