ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Feminilidades em duelo: o moral e o imoral em O dragão da maldade |
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Autor | Andrea Rosas de Almeida |
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Resumo Expandido | O dragão da maldade contra o santo guerreiro foi lançado em 1969, durante a ditadura civil-militar no Brasil. Não por acaso, o filme questiona o processo de modernização do país marcado pelo autoritarismo do Estado e, na esteira desse pensamento, marca a distinção moral entre o arcaico e o moderno. À luz de ideações comportamentais atribuídas às mulheres, no contexto da normatização patriarcal, a personagem Santa é associada à moralidade dos oprimidos, enquanto Laura, seu oposto, à imoralidade dos opressores. Isto é, a “oposição santa/prostituta se representa aqui, de modo a figurar, na esfera dos homens, uma separação de territórios” (XAVIER, 2012, p. 299). Em outras palavras, convenções sociais balizam a noção de decência intrínseca à Santa, assim como amparam a dita indecência de Laura, no viés de atribuir sentido às alegorias pela mediação de concepções de moralidade historicamente construídas. Nessa configuração, Santa é enaltecida por sua pureza e representa a moralidade do arcaico, da religião popular. No entanto, a personagem é dissociada do heroísmo das figuras masculinas integrantes do elenco das tradições, tendo, inclusive, seu arquétipo elaborado à margem do androcentrismo da lenda de São Jorge matando o dragão, que inspira o filme. Além do mais, apesar de circular livremente entre as personagens, experimenta o isolamento, pois distancia-se das demais como quem pertence a outro mundo (RUBIM, 1999, p.9). Por sua vez, Laura é urbana, adúltera, interesseira, a figuração dos aspectos condenáveis da modernização, o padrão das personagens burguesas cinemanovistas: “egocêntricas [...] e que não possuem consciência ou não se importam com o sofrimento das classes oprimidas” (SILVA, 2020, p. 37). Diante do exposto, a construção alegórica de Laura reúne aspectos que incitam a imoralidade modernizante. De maneira oposta, a alegoria da Santa, representa a moralidade da tradição, na medida em que a beata sequer deflagra conflitos, “sua potência espiritual submete sua condição humana, [...] nela a mulher também deixa de existir” (RUBIM, 1999, p. 13). Destaca-se, então, que a dualidade entre as personagens femininas, na perspectiva narrativa, anula a corporeidade da Santa e escancara o que há de questionável na mulher moderna figurada por Laura. Isto posto, cabe pensar no androcentrismo narrativo que direciona a distinção entre moralidade do oprimido e imoralidade do opressor, tendo em vista os modelos de feminilidade levados a uma controversa condição orgânica que, por sinal, julgam moralmente a mulher moderna, por transgredir valores patriarcais, e santificam uma beata, subtraindo sua condição de mulher. À vista disso, por meio da materialidade da obra fílmica, propomos desenvolver uma análise sistêmica das elaborações alegóricas das duas personagens aqui apresentadas. |
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Bibliografia | O DRAGÃO da maldade contra o santo guerreiro. Direção: Glauber Rocha. Rio de Janeiro: Mapa Filmes, 1969. 1 filme (95 minutos). |