ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Mulheres, imagens e filmes |
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Autor | YANET AGUILERA VIRUEZ FRANKLIN DE MATOS |
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Resumo Expandido | As mulheres foram as primeiras a desconsiderar a história – pelo menos aquela com que fomos acostumados a lidar na academia – porque não se sentiam contempladas. Poucos foram os que levaram em conta esta façanha, entre eles, Hans Belting, que parte da protesta das feministas para pensar o seu livro O Fim da História da arte. Apesar disso, nunca foi fácil fazer com que as mulheres sejamos escutadas a ponto dos companheiros se sentirem implicados pelo que dizemos, e não por mera solidariedade. Além de trabalhar de forma separada (a Socine é um exemplo disso, o seminário temático sobre mulheres é quase exclusivamente frequentado por mulheres), ainda temos que nos debater com alcunhas pejorativas tais como a do identitarismo, ligado às perversas políticas neoliberais que nos assolam hoje em dia. Não há como, companheiros, não aceitar a nossa revolta e reivindicações, mesmo que no Brasil (não acho que seja diferente em grande parte do planeta), obras de arte, textos históricos e críticos sobre mulheres e feitos por mulheres da América Latina são geralmente analisados e debatidos por mulheres. Alguns homens tem a coragem de quebrar com isso. Conheço um, espero conhecer outros, e ficar menos ignorante a esse respeito. “Rebeldia e Experimentação: Ana Rompendo as Fronteiras da América Latina” (em processo de publicação), de Antônio Carlos Amancio, quebra com esse jejum de homens escrevendo sobre filmes da América Latina feitos por mulheres sobre mulheres. É sobre Ana sem título, de Lucia Murat (2021), que pretendo escrever, num diálogo estreito com a excelente análise que o artigo mencionado faz do filme. Sem dúvida a fita, como afirma Amancio: “utiliza habilmente um rico material historiográfico, artístico e engajado politicamente para compor um libelo contra o racismo, a misoginia e a violência política institucional que tem marcado as últimas décadas das sociedades latino-americanas”. Ou ainda quando fala da “sublevação de corpos regulados de um poder patriarcal violento e atenuador dos conflitos sociais advindos da exclusão e do apagamento das vozes dissonantes”. A análise de Amancio é antes de mais nada uma bela e comovedora escuta. É disso que se trata, companheiros, de querer e saber escutar. O lugar de fala das mulheres já está mais do que garantido – falamos muito e falamos bem, como nos mostra Ana sem título, assim como tantas outras obras feitas por mulheres sobre mulheres –, falta que a outra metade do planeta nos escute, não por solidariedade, repito, mas por uma urgência política. Assim, proponho como um acréscimo à leitura de nosso intrépido decano um elemento do filme que me parece fundamental e que, de certa forma fica fora da sua análise: o fato de a fita se debruçar sobre as artes plásticas da América Latina. Isto não é pouco. Geralmente nossa tradição crítica vê o cinema mediante uma narrativa estreitamente ligada com a literatura. As imagens do filme são vista, geralmente, em função quase meramente ilustrativa do enredo e dos desdobramentos seja da crítica social e política – exploração, racismo, misoginia etc. – , seja dos debates internos da história do cinema – documentário, ficção, gêneros (road movie), etc. O que este filme nos propicia é a necessidade de pensar a relação que se estabelece entre as imagens audiovisuais do filme e as imagens criadas pelas artistas elencadas na fita. O que está em jogo nessa relação? De cara, ela apresenta uma questão fundamental, a do papel do fotógrafo do filme, um dos poucos homens que fazem parte de Ana sem título. Ele é o encarregado de enquadrar, iluminar, enfim, de nos mostrar os participantes – cineasta, técnica de som, atores, artistas – e as obras que fazem parte do filme. Assim, resta saber ainda o que está em jogo nessa relação entre as imagens das mulheres e o fotógrafo que, apesar de aparecer discretamente nas cenas, é onipresente no filme. A relação do cinema da América Latina com suas imagens é uma questão ainda a ser desbravada na crítica e teoria do cinema. |
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Bibliografia | BELTING, HANS "O FIM DA HISTÓRIA DA ARTE". São Paulo, CosacNaify, 2012 |