ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | A potência do reencontro nas adaptações audiovisuais contemporâneas |
|
Autor | MARCELA DUTRA DE OLIVEIRA SOALHEIRO CRUZ |
|
Resumo Expandido | Este trabalho é um recorte de uma pesquisa em desenvolvimento e se dedica à análise da articulação espiralada da memória cultural de textos da literatura através dos seus deslizamentos intertextuais para o audiovisual, no cenário cultural e midiático convergente do final do século XX e início do XXI. Propomos que o cenário contemporâneo produz um fenômeno de retomadas incessantes de textos clássicos pelo audiovisual, que é fortemente marcado pela aproximação das versões adaptadas com a cultura pop e com o público jovem. A retomada destes textos em contextos históricos, políticos e midiáticos diversos, produz instâncias de reencontros com narrativas amplamente conhecidas pelo público e pela indústria audiovisual, abrindo diálogos entre os textos fonte, suas versões e as perspectivas particulares do seu tempo histórico de produção. O reencontro articula a memória cultural do texto clássico com uma nova circunstância de recepção audiovisual resultando em um universo acumulativo e retroalimentado de referências. A matéria ficcional que está em processo de retomada no contexto histórico que recortamos revela os vieses discursivos (Stam, 2008: 467) dos seus processos específicos de produção e de consumo. Karen Hollinger afirma que o período é marcado por uma mudança no cenário de filmes norte-americanos comerciais feitos por mulheres para um público feminino. Uma das principais características do momento, para a autora, é “o retorno para a literatura clássica de autoria feminina como repertório fonte para narrativas centradas em protagonismos femininos.”. (2019: 84) Esse movimento realiza a retomada d a narrativa de protagonistas femininas que são importantes não somente para essas realizadoras, mas também para um público que as reencontra nas telas. Personagens que, por vezes, se recusam a permanecer nos lugares históricos e culturais nos quais foram escritas e inscritas, “se libertando das palavras com as quais foram inicialmente feitas.” (Felski, 2019: 86) São personagens que resistem ao passar implacável do tempo, seja na nossa memória, nas páginas escritas e lidas ou nas suas tantas versões nas telas audiovisuais. Propomos que são elas, as personagens, que nos fazem retornar. Sendo assim, através da análise da personagem Jo March, protagonista de Adoráveis Mulheres, romance de Lousia May Alcott (1869), buscamos entender como as experiências intertextuais e afetivas de recepção promovem circunstâncias de retorno e reencontro. O público tem duas oportunidades de reencontro com Jo March nas últimas três décadas: a primeira em 1994 e a segunda em 2019. As referências, assim como as escolhas intertextuais da construção narrativa da personagem em ambos os filmes, demonstram um desejo de ler a conhecida história das irmãs a partir dos seus contextos sociopolíticos e culturais de produção. A adaptação de 1994 foi roteirizada por Robin Swicord e dirigida por Gillian Armstrong, a primeira vez, após quatro adaptações para o cinema, que o romance é roteirizado, dirigido e produzido por mulheres. Através de uma leitura que buscava os potenciais subtextos políticos na narrativa, Swicord e Armstrong não só subscrevem à interpretação contemporânea da narrativa de Adoráveis Mulheres como parte de um processo de resistência e emancipação feminina à estrutura patriarcal do século XIX, mas também inserem mais uma camada, uma marca, que potencialmente pode ser lida neste sentido no futuro. Igualmente confrontada com o desafio de conciliar Jo March com uma perspectiva contemporânea, a versão de 2019, roteirizada e dirigida por Greta Gerwig dá um passo além neste viés (re) interpretativo, incorporando sensibilidades do tempo presente à subjetividade da personagem. A mirada analítica proposta por este trabalho nos interessa pela sua potência de dar relevo à historicidade que cada reencontro carrega em si, abrindo uma janela para a análise das intervenções que podem ser identificadas a cada repetição, em cada adaptação e em cada reencontro. |
|
Bibliografia | ECO, Umberto. Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1989 |