ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Corpo infinito em lampejo |
|
Autor | LINA CIRINO ARAUJO OLIVEIRA DOS SANTOS |
|
Resumo Expandido | Denise Ferreira da Silva é filósofa, artista visual, professora e diretora do Social Justice Institute da Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá. Corpus infinitum foi uma performance online realizada por Denise, em 2020, na abertura do IX Cachoeiradoc. O festival de cinema documentário acontece presencialmente em Cachoeira, no Recôncavo da Bahia. No entanto, em razão da pandemia, o festival teve sua primeira versão online. A fala-performance foi transmitida online no Facebook e no Youtube do Cachoeiradoc, em 05 de dezembro de 2020, às 16h, com duração de 1’52m. Durante a performance, Denise lançou mão de imagens: trechos do filme Corpo Fechado (2018) e cartas de tarot. A filósofa tirou cartas na mesa de quem estivesse tele-presente. A leitura das cartas foi mediada também por comentários do público. Denise salientou, durante a performance, que o mesmo título - Corpus Infinitum - já foi usado por ela em outros lugares e ações, com a observação de que, em cada encontro, ela traz um aspecto diferente desta perspectiva, que ela prefere nomear de “trajetória de um esforço”. O título já foi utilizado pela autora, por exemplo, em um experimento no programa de pós-graduação em ciências políticas da Universidade de São Paulo, em 05 de dezembro de 2019. Também foi título de um filme dirigido por Denise e Arjuna Neuman (Soot Breath/Corpus Infinitum, 2020). A expressão “Corpus Infinitum" aparece pelo menos dez vezes no seu livro A Dívida Impagável (2019), cuja autora informa tratar-se de uma imagem (e não uma ideia) de um "Mundo Implicado", cuja inspiração vem da ideia de Plenum de Leibniz. “Na natureza tudo é pleno”, afirma Leibniz (2016, p. 114). A natureza, segundo o filósofo, é formada por substâncias simples (mônadas) separadas umas das outras por ações próprias que intervém em suas relações. Esta separação não significa necessariamente uma distância física - a separação diz respeito às diferenças ou incomunicabilidades relacionadas às percepções e apetites próprios de cada substância. O Plenum seria a representação hipotética de uma pluralidade de substâncias pela sua unidade: todos os corpos estão conectados e um corpo age sobre outro e é por ele afetado, formando assim um corpo orgânico: a "Máquina da Natureza”. Quando Denise constrói a noção de Corpus Infinitum, baseada no Plenum de Leibniz, a filósofa propõe uma imagem de um contexto em que todas as existências estão conectadas sem separabilidade, sequencialidade ou determinabilidade: pilares do conhecimento ontoepistemológico e do tempo linear do “Mundo Ordenado”. A separabilidade, a determinabilidade e a sequencialidade que Denise opera (e combate) têm elementos de Kant e Hegel que ainda influenciam projetos epistemológicos contemporâneos. Quando a vida social é capaz de refletir o “Mundo Implicado”, argumenta Denise, a sociedade não seria causa tampouco efeito de relações separadas, ao contrário: tudo o que existe é expressão singular de cada pessoa e de todas as outras existências atuais-virtuais do universo, como um Corpus Infinitum. Corpus Inifinitum seria a imagem de um todo constituído por diversas pluralidades que se conectam de modo implicado. A filósofa prefere a perspectiva de uma imagem (e não de um conceito) para construir e difundir esse pensamento. A imagem a que se refere Denise é influenciada pela imagem dialética de Walter Benjamin, ou seja, “a imagem é o momento em que o que foi une-se ao que é num lampejo, assim formando uma constelação. Em outras palavras: a imagem é a dialética em suspenso” (FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 113). Ao compartilhar o pensamento prismático que circunda Corpus Infinitum, Denise se manifesta por meio de fragmentos e através de imagens - performances, filmes, experimentos em sala de aula - de modo a amalgamar, na forma, a sua visão prismática de um todo conectado e implicado. |
|
Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Passagens. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006. |