ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Condensação e fragmentação |
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Autor | Luiz Carlos Oliveira Junior |
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Resumo Expandido | Discutiremos dois conceitos estéticos que implicam dois diferentes conjuntos de operações com o espaço-tempo cinematográfico. O primeiro desses conceitos é o de condensação, que pressupõe uma saturação (temporal, espacial, estética, composicional) da imagem, tendo no plano-sequência e no “plano-tableau” (BONITZER, 1987) seus dispositivos formais de predileção, conforme se observa nos filmes de cineastas como Andrei Tarkovski, Miklós Jancsó, Manoel de Oliveira, Raúl Ruiz e Júlio Bressane. O outro conceito é o de fragmentação, que se pauta na recusa da unidade e na valorização da autonomia do fragmento, rejeitando a ideia de continuidade em prol de um estilo disruptivo, conduzido por uma montagem do tipo “colagem” (AMIEL, 2010). Jean-Luc Godard, Vera Chytilová e Rogério Sganzerla são alguns dos seus maiores representantes. A estratégia de condensação possui no plano-sequência – com ou sem profundidade de campo – e no “plano-tableau” (BONITZER, 1987) seus dispositivos formais de predileção, daí a necessidade de investigar as características e possibilidades contidas nesses procedimentos. Procuraremos demonstrar também a proximidade da estética de condensação com pelo menos três noções adjacentes, embora não coincidentes: a de “cristais de tempo”, elaborada por Gilles Deleuze (2005), a de estratificação temporal, cunhada por Reinhardt Koselleck (2014) para propor um modelo epistemológico de estudo do tempo histórico, e, por fim, as considerações sobre o “trabalho de condensação” na teoria freudiana sobre a estrutura do pensamento onírico. Quanto ao paradigma da fragmentação, além de realçar sua conexão com a lógica da colagem (central na produção artística do modernismo e sub-repticiamente reinventada na contemporaneidade), destacaremos sua radicalização em obras que se enquadram na noção de “estilo tardio” (SAID, 2009), particularmente marcante nos filmes derradeiros de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla – “A idade da terra” (1980) e “O signo do caos” (2003), respectivamente. Perpassando ambos os paradigmas, encontraremos a preeminência do conceito de alegoria, que buscaremos não somente em sua célebre reformulação por Walter Benjamin em “A origem do drama barroco alemão” (1928), mas também nas pesquisas posteriores – e fundamentais – de Gregory L. Ulmer (1983) e Ismail Xavier (1993). Investigaremos, de uma perspectiva comparatista e genealógica, as formas como os dispositivos de representação abordados retomam ou deslocam parâmetros centrais da história dos estilos no cinema. |
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Bibliografia | BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984. |