ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | O pensamento de Marguerite Duras |
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Autor | Karol Souza Garcia |
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Resumo Expandido | Este trabalho se debruça sobre as relações entre narrativa literária e narrativa fílmica na obra de Marguerite Duras. Para tanto, propomos uma breve leitura do filme Agatha et les lectures illimitées (1981), sucedida por uma análise do romance L’Amant (1984). Finalmente, estabelecemos relações entre as duas obras em busca de aspectos de uma poética e de uma teoria própria à autora que parece indicar o caráter inseparável das formas cinematográficas e literárias no modo de pensar e produzir do seu tempo. Marguerite Duras nasce em 1914, na cidade de Ho Chi Mihn no Vietnam. Após o término dos seus estudos secundários, ela deixa a colônia e parte para a dita França continental. Insere-se no círculo de autores da Editions Minuit dos anos 60 cujas obras, dividindo as mesmas preocupações formais, recebem o nome de Nouveau Roman. Concomitantemente à escrita, ela exerce diversas funções em mais de vinte filmes. Les critiques de notre temps et Le Nouveau Roman (1972) reúne diversos textos críticos contemporâneos às obras literárias que buscavam delimitar e descrever o movimento no calor do seu acontecimento. Engana-se quem pensa que este esforço parte apenas de teóricos; encontramos, na edição, reflexões de Roland Barthes, Michel Foucault e Jean-Paul Sartre em meio as de Michel Butor, Nathalie Sarraute, Marguerite Duras e Alain Robbe-Grillet. Este esforço metalingüístico parece indicar uma extinção de hierarquia entre obra e crítica, desencadeando o que pensamos ser a fusão dos dois domínios no âmbito da obra literária ou cinematográfica. É o que buscamos identificar em Agatha et les lectures illimitées e em L’Amant. No genérico de Agatha et les lectures illimitées (1981), a câmera desce lentamente pela página de um livro cujos caracteres estão em itálico, tal como se transcreve a didascália do texto teatral. Confirmando a sugestão tipográfica, o texto dá algumas instruções sobre o cenário, o som, a luz e os personagens. As seqüências seguintes são todas coerentes às indicações da primeira. Os planos - longos, parados e com pouca luz - são sempre acompanhados apenas da voz, em off, dos atores. Os personagens, em cena, estão sempre calados. Ouvimos um diálogo que, embora construído na primeira e segunda pessoa, soa como um diário de memórias, ora assumindo uma perspectiva, ora outra. O efeito de lentidão no desfile dos planos é desencadeado por elementos visuais - como a repetição dos cenários, a ausência e a pouca variação de luz -e intensificado pela constância do texto narrado em off que exige do espectador um ato de leitura do escrito, conforme anuncia o genérico de Agatha. Em L’Amant (1984), dois grandes acontecimentos ocupam um lugar central: a primeira experiência amorosa e a partida de Saigon, terra da infância, para a quase desconhecida Paris. Tratando-se de um texto autoficcional, Duras molda, em sua forma, o esforço e a dificuldade do processo de busca pela memória. A lembrança de Duras é incompleta, fugidia e, sobretudo, repetitiva. A autora expressa, na repetição da descrição de uma imagem em movimento, a angústia em capturar um momento do passado que jamais será revivido: uma travessia de barca que, a cada retomada, refere-se a um evento diferente: o início do primeiro relacionamento amoroso, o seu fim, a sua partida do ambiente familiar e o percurso de sua vida, transformado em ficção. Essa travessia, em looping, traz a imagem ao texto para expressar a obsessão em lembrar e, concomitantemente, a impossibilidade de fazê-lo. De acordo com Aumont (2004), há muitos modos de fazer teoria. Neste sentido, conforme a filiação ao Nouveau Roman e o que dizem, em forma e fundo, suas obras, Duras apresenta uma forma de fazer narrativa em que os limites entre as convenções do escrito e do fílmico são fluidas e indissociáveis. |
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Bibliografia | AUMONT, Jacques. Les théories des cinéastes. Paris : Armand Colin, 2011. |