ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Rosa abre caminhos em O Fim e o Princípio (2005), de Eduardo Coutinho |
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Autor | Kamilla Medeiros do Nascimento |
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Resumo Expandido | Este trabalho tem por objetivo abordar reflexões de uma parte da pesquisa de mestrado em andamento sobre a relação do cinema de Eduardo Coutinho (1933-2014) com a região Nordeste. Não por acaso, há exatos 60 anos, em abril de 1962, o então jovem cineasta, recém chegado de Paris, retorna ao Brasil e se envolve com o Centro Popular de Cultura da UNE, por onde pôde pisar em terras nordestinas pela primeira vez. Ali ocorreu o primeiro encontro decisivo com Elizabeth Teixeira, pouco tempo após o assassinato de João Pedro Teixeira, em Sapé-PB. Entre as décadas de 1960 e 2010, ou seja, no conjunto de sua obra, o interesse por essa região do país pode ser notado a partir de várias idas e vindas com os filmes, fossem eles documentários em sua maioria ou mesmo ficção, fossem para o cinema ou para a televisão, para isso podemos citar: “Cabra Marcado Para Morrer” (1964-84), “Faustão” (1971), “Seis dias em Ouricuri” (1976), “O pistoleiro de Serra Talhada” (1976), “Theodorico, o imperador do sertão” (1978), “Exu, uma tragédia sertaneja” (1979), “Os romeiros de Padre Cícero” (1994), “Peões” (2004), “O Fim e o Princípio” (2005), "A família de Elizabeth Teixeira (2014) e "Sobreviventes de Galileia" (2014). Feita a contextualização de onde a pesquisa parte, poderíamos listar inúmeras mulheres que se destacam nos filmes do diretor, a começar pela própria Elizabeth, mas o que de fato nos importa para esta apresentação, será a análise de Rosa, a Rosilene Batista, na época professora da alfabetização e voluntária da pastoral da criança, ela é uma das personagens centrais do longa-metragem “O Fim e o Princípio”, o qual encerra uma fase da obra de Coutinho. Dali em diante, iniciou-se um novo ciclo com filmes como “Jogo de Cena” (2007), “Moscou” (2009), “Um dia na vida” (2010), “As canções” (2011) e o póstumo “Últimas conversas” (2015). Seu último aceno ao Nordeste se deu pouco antes de sua morte, ao voltar à Paraíba e Pernambuco para gravar os extras do DVD de “Cabra Marcado Para Morrer”, em 2013. De volta ao filme de nosso interesse, em “O Fim e o Princípio” não havia uma pesquisa prévia de personagens, nem temas definidos exatamente, como o diretor costumava fazer. A equipe chega ao sertão paraibano em busca de pessoas que tenham histórias para contar e encontra próximo ao município de São João do Rio do Peixe-PB, o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde viviam mais de 80 famílias, a maioria delas ligadas por laços de parentesco. Enfim, a intenção é analisar como o protagonismo feminino pode ser revisitado na obra. O interesse em tal personagem se dá pela forma como ela conduz a equipe pelas casas de Araçás, afinal, poderíamos dizer que o filme ganha força e sentido no momento em que ela traça um mapa por onde as histórias seriam costuradas. Portas e janelas se abrem para o chamado dela. Coutinho é o diretor, mas é Rosa quem conduz. Em comparação com outras mulheres ali presentes, como Dona Mariquinha, que nos encanta com sua prosódia e espontaneidade, Rosa desenrola o papel de arauto daquelas outras mulheres e suas histórias reais. Dar a devida atenção à mediação tão participativa da personagem poderia nos ajudar, inclusive, a entender um pouco melhor a relação que se deu entre o diretor e o Nordeste. O próprio título do filme talvez nos deixe uma pista enigmática, como as faces e as histórias que ouvimos ali. O fim e o princípio de um ciclo na carreira de um cineasta, o fim e o princípio de uma situação política, social e econômica no país naquele momento histórico, o fim e o princípio de uma tradição do que se entende por Nordeste e o elo disso, talvez, seja própria a Rosa, mulher sertaneja, que anda pra lá e pra cá com sua lambretinha, do campo para a cidade e da cidade para o campo, costurando tradição e modernidade, a dar aulas na escola, a se prestar ao trabalho voluntário e a ser a mediadora de um dos maiores cineastas brasileiros. |
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Bibliografia | ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, 2011. |