ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | DIASPORÁTICAS - Processo técnico e estético de uma produção imersiva |
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Autor | Lyara Luisa de Oliveira Alvarenga |
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Resumo Expandido | No exercício de inventar futuros para audiovisual vislumbramos uma intersecção inevitável: audiovisual, imersão e interatividade. Pensar a construção de conteúdos audiovisuais nos leva a uma conexão entre suas estratégias conceituais e estéticas sedimentadas, o experimentalismo poético e as funcionalidades operacionais oferecidas pela expansão tecnológica. Nesse sentido, apresentaremos parte do processo de desenvolvimento de DIASPORÁTICAS, um experimento que é uma obra audiovisual de 18 minutos realizada com captura de imagem e som em 360 graus; experimento que passou pelo processo de captação em abril de 2022 e que se encontra em finalização. Usando uma tecnologia atual e explorando os limites da estrutura audiovisual, DIASPORÁTICAS é uma obra audiovisual imersiva e interativa, criada e desenvolvida junto ao corpo de pesquisa da tese de doutorado da autora. Um exercício cênico onde cinco personagens femininas apresentam vislumbres de suas histórias traumáticas de situação de diáspora. Todas as personagens são mulheres que por razões extremas são obrigadas a deixar seus territórios de origem no continente Africano e passam pela situação de deslocamento atravessando um oceano e chegando do outro lado do mundo no Brasil. As personagens são todas alegóricas e encontram-se em uma situação de confinamento em uma espécie de limbo histórico imaginário e reagem a chegada do um/a intruso/a. É através desse ente, perturbador do delicado equilíbrio emocional que existe entre elas, que o usuário vivencia a experiência. O vídeo 360 é capaz de proporcionar a elaboração de uma proposição estética que podemos chamar de experiência de realidade virtual cinematográfica (MATEER, 2017), pois possibilita a criação de ambiente imersivo com baixo nível de interatividade, mas capaz de colocar o usuário em um ambiente que o envolve e cerca por todos os lados. No vídeo 360 o usuário passa pela experiência dentro da imagem, faz parte dela e decide para onde direcionar seu olhar e seu interesse. Um dos grandes desafios da criação e desenvolvimento de conteúdos imersivos audiovisuais é a perda de referência do quadro. A ideia de enquadramento a priori não se encaixa na dinâmica do vídeo 360 com sua imagem totalitária e panorâmica. A princípio filmamos tudo em planos sequência, sempre em plano geral e em tempo real. Dessa forma como conduzir o olhar e a atenção do usuário? Como cativar o olhar do usuário a cada mudança dramática ou cênica? Como dirigir sem enquadrar, sem movimentar – ou movimentando muito pouco - a câmera? Como compor onde tudo aparece no plano, onde é difícil “esconder” a equipe, onde tudo está em cena. Onde o em quadro e o fora de quadro se fundem o tempo todo? Outro desafio que se coloca é como conduzir o elenco. Como dirigir atrizes de audiovisual acostumadas ao tempo do corte e do recorte estético do enquadramento, para comporem e as cenas inteiras sem cortes dentro de uma dinâmica de trabalho cênico em grupo, almejando uma expressão corporal plena e um senso aguçado de presença? E por fim o desafio de conduzir uma equipe de audiovisual tradicional na empreitada de desenvolver em conjunto essa experimentação de iluminação, fotografia e captação de som. A dinâmica de captação 360 se impõe e afeta todas as estratégias de composição cênica. A proposta da apresentação dessa experiência prática, sob a luz do pensamento conceitual que apresenta uma reflexão a respeito das estratégias de composição estética audiovisual, é o que estrutura a parte central da pesquisa de doutorado que vem sendo apresentada em diferentes etapas nos encontros da Socine em suas duas últimas edições. Esticando as bordas das possibilidades técnicas e estratégias de composição audiovisual que incluem os conceitos de imersão, sensorialidade e interatividade. Esgarçando o campo da produção audiovisual e compreendendo esse esgarçamento como algo já configurado no presente e que tende a ser ampliado no futuro. |
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Bibliografia | CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador - Visão e Modernidade No Século XIX. Contraponto, Rio de Janeiro, 2012. |