ISBN: 978-65-86495-05-8
Título | Maracatu, meu Amor: processo de construção de roteiro cinematográfico |
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Autor | Renata de Andrade Ribeiro |
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Resumo Expandido | Como artista, pesquisadora e aprendiz da tradição do Maracatu de Baque Virado, relato parte de um projeto de criação cinematográfica de base etnográfica realizada junto ao PPGAC/UFRJ em parceria com um grupo de colaboradores formado por maracatuzeiros. Considerando o roteiro como uma das possíveis bases desse processo, elegeu-se essa fase de criação para ser desenvolvida durante o projeto. Conforme aponta Carrière (2006), o roteiro não nasceu junto ao cinema, mas foi moldando-se conforme as necessidades que as rápidas transformações técnicas e estéticas do meio audiovisual exigiam. Para Eisenstein (1990), o argumento configura-se como uma expressão do pensamento cinematográfico que foi chamado para “incorporar a filosofia e a ideologia do proletariado vitorioso” (EISENSTEIN, 1990, p.24). Para Doc Comparato (1949) “o roteiro é o princípio de um processo visual, e não o final de um processo literário” (COMPARATO, 1949, p.20). Suso Cecchi d’Amico, roteirista italiana, conforme relato de Doc Comparato (1949, p.21), compara-o a uma crisálida que se converterá em borboleta. Tal qual uma lagarta já possui em si a essência daquilo que dará origem à sua nova forma, o roteiro contém em si imagens e sons que serão transformados em filme após longo processo que culmina não nas salas de edição - onde a história ganha forma - mas ao entrar em contato com o público que, a ele atribui sentido. Concernente ao desejo de Rocha (1981) de realizar uma produção criativa que não repita o discurso colonizador sobre a cultura brasileira, consideramos anexar à discussão o questionamento trazido por Taylor (2013) sobre que histórias, memórias, lutas e tensões se tornariam visíveis se as pesquisas afastarem o olhar de documentos literários e históricos para ver através dos comportamentos performatizados. Processos de criação como o projeto Vídeo nas Aldeias, criado por Vincent Carelli e o Cinema de grupo, realizado pelo Laboratório Kumã de Experimentação e Pesquisa em Imagem e Som da UFF trazem algumas respostas práticas a esse questionamento. Através de recursos audiovisuais e de um método de produção compartilhada, realizam um trabalho de caráter antropológico e cosmopolítico. Além disso, aproximam as funções de espectador e autor em cinema, com a potência de expressar singularidades e, ao mesmo tempo, realizar um trabalho coletivo. Envolvendo uma comunidade em seus trabalhos, de forma voluntária, durante o ano todo, o maracatu nação, tradição de matriz afro-brasileira que ocupa performaticamente as ruas de Recife, conjuga dança, percussão e canto fundamentados por religiões afroindígenas como Candomblé e Jurema. As pessoas que mantém essa cultura vivem, em sua maioria, em comunidades periféricas e formam um público ao qual a indústria de entretenimento alcança, porém, ao mesmo tempo - salvo em raras exceções - tende a excluir. No entanto, sua performatividade, aliada aos símbolos ancestrais que porta e à forma intrínseca com que expressa com beleza um cotidiano em que é colocado à margem, reclama, ao mesmo tempo em que atesta, seu protagonismo. Almejando a criação de um roteiro cinematográfico que não apenas se inspire em histórias de maracatuzeiros, mas que os convide a intervir nesse processo, pretende-se trabalhar com um espaço de criação gerido pela invenção coletiva de dispositivos. Assim, nos encontros com o grupo de colaboradores, a figura do cineasta/pesquisador afasta-se do centro do processo para atuar como um mediador de experiências compartilhadas. O primeiro encontro com o grupo de colaboradores está previsto para ocorrer em Julho de 2022. Registros e relatos desse momento serão a fonte para a criação do primeiro tratamento de roteiro do projeto. Pretende-se apresentar nessa comunicação, uma análise sobre como as contribuições do primeiro encontro de colaboradores passam a integrar o roteiro em criação e refletir sobre como essa escolha metodológica altera os rumos da pesquisa. |
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Bibliografia | CARRIÈRE, Jean-Claude e BONITZER, Pascal. Prática do roteiro cinematográfico. Tradução de Teresa de Almeida. São Paulo: JSN Editora, 1996. |