ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Tornar-se Homem: A Garota Final e o Garoto Injustiçado |
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Autor | PEDRO ARTUR BAPTISTA LAURIA |
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Resumo Expandido | O presente trabalho tem como objetivo demonstrar as proximidades semânticas, narrativas, estéticas, conjunturais e, principalmente, sintáticas entre dois dos mais influentes subgêneros cinematográficos estadunidenses da década de 1980: os slashers e o suburbanismo fantástico. Tal esforço de aproximação se faz importante uma vez que ambos os subgêneros são historicamente e popularmente dissociados. Afinal, enquanto os slashers são filmes repletos de sangue e violência em que jovens são perseguidos e mortos por seriais killers como Halloween (John Carpenter, 1978) e Sexta Feira 13 (Sean Cunnighan, 1980), o suburbanismo fantástico é normalmente marcado por filmes voltados para família, onde jovens se metem em aventuras para lidar com situações fantásticas como E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982) e Jogos de Guerra (John Badham, 1983). Apesar dessa primeira impressão dissonante, o slasher e o suburbanismo fantástico compartilham um grande número de similaridades: ambos costumam ser protagonizados por jovens brancos de classe média, se passar em subúrbios ou cidades pequenas, ter tramas que se pautam na ineficiência das autoridades, na família desestruturada e na figura desestabilizadora do “Outro”, além, é claro, da utilização de elementos comuns a obras de Horror e Fantasia. Outro aspecto que aproxima ambos os subgêneros é o momento histórico em que se originam: seus principais filmes são lançados em plenos anos Reagan, na conjuntura a que Robin Wood vai definir como entretenimento reaganista (2003). Suas raízes também são compartilhadas: tanto o slasher quanto o suburbanismo fantástico são desdobramentos do suburbanismo gótico, subgênero de origem literária categorizado pela pesquisadora Bernice Murphy (2011). Com tantas similaridades, a dissociação histórica dos subgêneros se deve principalmente ao seu modelo de produção e ao público alvo de seus filmes. Enquanto os filmes slasher, desde o primeiro momento, foram produzidos de forma industrial tendo em mente um público adolescente ávido por violência e nudez, o suburbanismo fantástico ficou marcado por sua ligação com os chamados “filmes família”, muito vinculado à Amblin (produtora de Steven Spielberg). Além disso, seus protagonistas são praticamente sempre de gêneros opostos – a garota virginal e o jovem garoto. Esta última diferença, porém, é o foco desse trabalho – que busca demonstrar que o slasher e o suburbanismo fantástico também compartilham a mesma sintaxe – sendo seus heróis parte essencial dessa constatação. Apesar de serem personagens de gênero e idades diferentes, a garota final e o garoto injustiçado são ambas figuras restaurativas, ou seja, que precisam retomar o status quo, se tornando “homens” no processo. A garota final, o fazendo a partir de uma transformação de uma figura passiva para uma figura ativa, tal qual é discutido pela crítica feminista Carol Clover (2015), e o garoto injustiçado ao cumprir as expectativas daquela sociedade em que está inserido como apontado por Eric Lars Olson (2011) e Angus McFadzean (2019). Quanto ao referencial teórico, este trabalho além de partir da categorização do suburbanismo gótico feita por Bernice Murphy, também traz para discussão as pesquisas de Carol Clover e David Greven sobre o slasher e de Angus McFadzean, sobre o suburbanismo fantástico. Metodologicamente, este trabalho utiliza como principais objetos de análise os três primeiros filmes da franquia Brinquedo Assassino, entendendo-a como a primeira franquia de sucesso que se desenvolve a partir de uma “hibridização” entre os dois subgêneros. A franquia não apenas incorpora elementos do suburbanismo fantástico ao slasher – mas também traz a garota final e o garoto injustiçado como co-protagonistas, o que permite uma análise comparativa do desenvolvimento desses personagens dentro de uma mesma obra. |
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Bibliografia | CLOVER, Carol. Men, Women and Chainsaws. Gender in the Modern Horror Film. New Jersey: Princeton University Press. 2015 |