ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | El botón de Nácar: a cinematografia e a memória da água |
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Autor | Rogério Luiz Silva de Oliveira |
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Resumo Expandido | “Disseram que a água tem memória”. Esta frase é dita pelo próprio diretor Patricio Guzmán nos minutos finais de "El botón de Nácar" (2015) e aponta o horizonte que se quer alcançar nos 80 minutos que seguem no longa-metragem. O documentário é dirigido por ele e tem o trabalho de cinematografia assinado pela fotógrafa Katell Djian. A construção da narrativa do filme está toda ela alicerçada na assertiva que abre este texto. É em torno desse princípio que imagens e sons (principalmente vozes) constituem e perseguem o objetivo de traduzir em forma de linguagem cinematográfica alguns entendimentos possíveis sobre como a Ditadura Militar chilena assassinou pessoas. Como não bastasse o extermínio, praticou crimes de ocultação de corpos. A água, nesse contexto, cumpre um papel doloroso, pois o argumento do filme é desenvolvido em torno do modo como o Oceano Pacífico, em sua parcela chilena, abriga um cemitério de vítimas das investidas assassinas lideradas por Augusto Pinochet. Para as suas famílias, décadas depois -, essas pessoas seguem como desaparecido(a)s político(a)s. Essa tentativa de síntese da produção dirigida por Guzmán, suscita, por essas e outras razões, inúmeras perguntas. Elaboramos algumas ao assumir a direção de fotografia como perspectiva para observar o filme: de que modo a direção de fotografia do documentário materializa a pergunta norteadora do filme? Em outras palavras: quais recursos e estratégias de cinematografia são mobilizados no sentido de plasmar a memória da água? Como é possível sistematizar os recursos de câmera a partir de um exercício teórico? A área de estudos em direção de fotografia tem fornecido horizontes reflexivos sobre as imagens em movimento, no sentido de amparar incursões como essas que aqui se propõe. A pesquisadora Ana Carolina Roure Malta de Sá é um exemplo disso. Ao construir sua reflexão sobre o processo de criação do diretor de fotografia Walter Carvalho, sugere de forma inspiradora a pensarmos na cinematografia como espaço de manifestação de anacronismo (2021). Ampliando o conceito a partir de uma leitura profícua da obra de Georges Didi-Huberman, a pesquisadora sugere considerar o quanto a direção de fotografia – em seu ato criador -, promove uma “montagem de tempos heterogêneos” (Didi-Huberman, 2015, p. 23). O arranjo teórico aqui evidenciado é aproximado de uma investigação imagética em que os planos dedicados à filmagem da água ganham atenção especial. Interessa notar, nesse exercício teórico, a maneira como diferentes mecanismos são mobilizados pela equipe de cinematografia a fim de transmutar memórias em metáforas visuais. Uma observação do conjunto de blocos narrativos do filme aponta para um repertório amplo. A incursão da câmera no documentário vai de planos gerais em tomadas aéreas a planos-detalhes de um bloco de quartzo. No meio do caminho, encontra planos filmados de cima de embarcações e mergulha em sequências subaquáticas que embrenham a narrativa numa rica variedade de possibilidades de expressão da memória. Em torno das imagens integrantes de "El Botón de Nácar" é possível dedicar atenção às especificidades plásticas obtidas pela direção de fotografia e a maneira como os recursos de cinematografia traduzem diferenciais de tempo. Mais que isso, a proposta aqui apresentada busca refletir, tomando as palavras de Didi-Huberman de empréstimo, acerca da ideia de que “a visualidade exige é que seja vista sob o ângulo de sua memória, de suas manipulações do tempo” (Didi-Huberman, 2015, p. 27). A intenção, com esse exercício teórico sobre a plasticidade imagética/cinematográfica, é justamente perceber as nuances dos planos que servem à direção de fotografia do documentário aqui analisado e verificar como tais tomadas plasmam um anseio de reunir, nas imagens em movimento, uma sobredeterminação temporal em torno de um mesmo elemento: a água. Objetiva-se identificar as diferentes frentes abertas pelas imagens criadas pela direção de fotografia sinalada por Katell Djian. |
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Bibliografia | DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: UFMG, 2015. |