ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O CEGO ESTRANGEIRO E A EXPERIÊNCIA DO SUJEITO IMERSO NA NÃO-IMAGEM |
|
Autor | huilton luiz silva lisboa |
|
Resumo Expandido | Em 2000, o cineasta brasileiro Marcius Barbieri lançou um curta-metragem provocativo e pude ser testemunha do estranhamento por ele proporcionado. “O Cego Estrangeiro” era um dos filmes inscritos para participar de um festival de cinema em Curitiba e eu, junto com outros quatro integrantes, fazíamos parte da banca de seleção. Sentados na sala escura assistimos aos seus seis minutos onde víamos na tela apenas legendas que traduziam uma história contada em um idioma que soava familiar, mas que não conhecíamos. Ao término, ainda na penumbra, ficamos alguns segundos em silêncio antes de trocarmos palavra. Estávamos há dias analisando filmes de todos os tipos. Saturado por imagens, montagens, efeitos especiais e expressões faciais de atores, minha sensibilidade como espectador estava alterada e não exatamente de um modo positivo. A experiência cinematográfica proporcionada por este cego, que havia me privado da visão momentaneamente, me deu a chance de imaginar situações e despertar outros sentidos que normalmente adormecem assim que uma imagem em movimento atinge a tela grande. Não deixar ver ou não tornar visível talvez seja uma das grandes ousadias do cinema. Os 24 quadros por segundo, que seriam uma verdade para Jean-Luc Godard e uma mentira para Brian de Palma, entretiveram plateias com suas imagens por décadas até o digital produzir efeito semelhante com zeros e uns. Por isso, começar e terminar um filme com uma tela preta, sem profundidade de campo, sem ilusão de ótica perspectiva, sem nada animado à nossa frente nos colocava em uma contradição. Apenas com as informações contidas nas legendas, o filme havia se materializado em nossas mentes e com diferentes nuances moldadas pela imaginação de cada um. Minha versão, por exemplo, era colorida e se passava em uma rua de algum vilarejo italiano. Ao substituir imagens por palavras, este curta-metragem faz uma interessante aproximação do cinema com a literatura, mas que também empresta da radionovela e do teatro cego/sensorial importantes referências. A opção pela palavra escrita, antes de ser uma limitação, transforma o público e co-criador. J. R. R. Tolkien afirmava que “se a história diz ‘ele comeu pão’, o produtor teatral ou o pintor podem mostrar apenas ‘um pedaço de pão’ de acordo com seu gosto ou desejo, mas o ouvinte da história vai pensar no pão em geral e imaginar à sua própria maneira”. Do mesmo modo, a tela vazia de representações e cor, nos permitiu, como disse Guimarães Rosa, ver “fechando um pouco os olhos, como a memória pede: o reconhecimento, a lembrança do quadro, se esclarece, se desembaça”. O presente artigo analisará como as potencialidades visuais do som aliadas à ausência da imagem podem proporcionar uma experiência imersiva em seus ouvintes-espectadores. Para tal, será utilizado como estudo de caso o curta-metragem “O Cego Estrangeiro (2000), de Marcius Barbieri. Em um primeiro momento, serão apresentadas as “afinidades imersivas” que este filme estabelece com o teatro cego/dos sentidos/escuro, a leitura imersiva e a radionovela/o podcast. Por fim, será feita uma reflexão sobre suas características cinematográficas com ênfase no uso da câmera subjetiva e no design de som. |
|
Bibliografia | CASTANHEIRA, José Cláudio S. Os olhos e ouvidos do filme: relações entre corpos, sons e imagens. Imagofagia, Disponível em: http://www.asaeca.org/imagofagia/index.php/imagofagia/article/view/252. Acesso em: 01 mar. 2023. |