ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | De Havana a Saigón: pontes sonoras no Noticiero ICAIC |
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Autor | Glauber Brito Matos Lacerda |
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Resumo Expandido | A presente comunicação é um substrato da pesquisa de doutoramento do autor que trata da poética sonora das reportagens do Noticiero ICAIC Latinoamericano referentes à Guerra do Vietnã e seus desdobramentos. O triunfo da Revolução cubana, em 1959, coincidiu com a ascensão da ingerência estadunidense no território vietnamita. Assim, nos trinta anos de circulação do NIL (1960-1990), o Vietnã e os vietnamitas foram tematizados em pelo menos 166 de suas 1493 edições. No afã de se engendrar uma identidade internacionalista no povo cubano, o que seria uma das virtudes do "homem novo", o Noticiero representa os vietnamitas sob dois regimes poéticos - que ora se justapõe, ora se entrecruzam - nomeados aqui de mimetizante e monumentalizante. No primeiro modo, mais perceptível nos anos de 1960, características como a bravura, a disciplina e a resiliência dos vietnamitas são mostradas como dignas de ser imitadas pelos cubanos na luta contra o imperialismo. Já a segunda tendência, mais presente nas reportagens a partir da década de 1970, quando a Guerra já se encaminha para o fim, os feitos gloriosos do passado recente dos vietnamitas são relembrados como monumentos em memória das lutas de emancipação dos povos terceiro-mundistas. A título de ilustração, a edição 444, de 13 de março de 1969, faz um paralelo entre o Assalto ao Palácio Presidencial de Havana e a Ofensiva do Tet, na República do Vietnã, em 1968. O primeiro episódio foi uma tentativa do Diretório Revolucionário de tomar a sede do governo em 13 de março de 1957, e, através de uma ação guerrilheira na Radio Reloj, convocar as massas para uma grande sublevação. O movimento foi reprimido e seu líder, José Antonio Echeverría, foi assassinado. Já o segundo acontecimento consistiu em um levante que se iniciou no cessar-fogo do feriado do ano novo lunar, o Tet, em 31 de dezembro de 1968. A insurreição foi organizada pelo Exército do Vietnã do Norte e pela Frente de Libertação Nacional, os vietcongues. Ao analisar a edição, percebe-se que os arquivos de imagens dos protestos estudantis nas ruas de Havana nos anos de 1950, as tomadas da investida dos rebeldes contra a embaixada dos EUA em Saigon, os sons de disparos de fuzil, as filmagens que reconstituem a ação de Echeverría e os arquivos de áudio da sua intervenção na Radio Reloj se entrecruzam como se os dois episódios históricos fossem duas batalhas de uma mesma guerra anti-imperialista. Por um lado, a associação do aniversário do Assalto ao Palácio Presidencial - tema que se repetiu no cinejornal em todos os anos durante a década de 1960 - com a Ofensiva do Tet já é, em si, um ato monumentalizante. Por outro, a evocação do heroísmo vietnamita em um momento de intensas reformas sócio-econômicas aponta para um intenção mimetizante. Afinal, no esforço de se forjar uma nova subjetividade internacionalista no povo cubano, as imagens de guerrilheiros que atiravam contra alvos estadunidenses no Vietnã não aspiravam apenas solidariedade, mas também figuravam como modelo de resistência ao imperialismo, digno de ser seguido pelos cubanos. |
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Bibliografia | BRONFMAN, A. Isles of Noise: Sonic Media in the Caribbean. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2016. |