ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | JEAN-LOUIS COMOLLI E(M) EVALDO MOCARZEL: DIÁLOGOS CINEMATOGRÁFICOS |
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Autor | Cristiane do Rocio Wosniak |
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Resumo Expandido | A filmografia documentária de Evaldo Mocarzel é atravessada por experiências coreocinematográficas. O exame de suas cartas de montagem em cotejamento aos seus atos fílmicos faz eclodir um pensamento esboçado sistematicamente em atos teóricos que se ancoram em procedimentos estilísticos, tais como a desconstrução do gesto pela montagem miríade. Os corpos dançantes na tela se presentificam no espaço-tempo por meio da montagem-cut e dos procedimentos em falso-raccord, fazendo o filme dançar em uma única rede sígnica na copresença da imagem atual e da virtual. Neste sentido, trago para o foco da análise alguns pressupostos de Jean-Louis Comolli em uma tentativa de verificar a possível confluência das ideias sobre tempo, presença, ausência, copresença e auto-mise-en-scène documentária, entre os objetos empíricos da investigação que recaem sobre os ‘filmes dançantes’ de Mocarzel. Comolli (2008a) defende uma linguagem cinematográfica calcada na arte do tempo, na qual a questão da presença e da ausência são dois aspectos de um duplo especular. Ao refletir sobre o tempo e a realidade no cinema em seu ensaio Viagem Documentária aos redutores de cabeça (2008b), aprofunda uma concepção da copresença em esquema de colisão e reconhece que esse duplo especular é, na verdade, a própria mise-en-scène do cinema, a arte do tempo. Já em seu ensaio Luz Fulgurante de um Astro Morto, Comolli assevera que o cinema, como linguagem artística, usa de forma criativa a reinvenção do espaço-tempo, por meio da montagem e “[...] torna sensível, perceptível e, às vezes, diretamente visível o que não se vê, a passagem do tempo no rosto e nos corpos” (Comolli, 2008c, p. 113). Nesta investigação, a inscrição do tempo-espaço fílmico está calcada na noção da copresença do corpo e(m) imagem por re(a)presentação. Os atores sociais dançantes não apenas habitam paisagens distintas nos documentários mocarzelianos, mas também proclamam a criação de uma singular relação em que o passado se atualiza, como em uma face especular na ação presentificada sem, necessariamente, a intermediação entre o lembrado/virtual e o atual. Vale destacar uma afirmação de Maya Deren (2012), segundo a qual pessoas diferentes filmadas fazendo o mesmo gesto em diferentes tempos e espaços poderiam, por meio de uma montagem criteriosa, ter unificada a presença da mise-en-scène nessa suposta separação entre frações de cena. Tal ideia corrobora os argumentos aqui expostos. É o que percebo nos conceitos teóricos descritos nas referidas cartas de Mocarzel, além das operações de montagem em falso-raccord presentes em suas coreocinematografias. Ao alinhar os estudos sobre o universo documental do cineasta, a partir de variadas fontes primárias, incluindo aqui a análise de excertos de seus filmes, também me coloco em relação interpretativa direta com a sua produção teórico-prática e, neste momento, converto-me em uma espécie de mediadora de fontes diversas na proposição de comentar analiticamente a sua obra artística. Este raciocínio sobre a produção conjunta do conhecimento pode ser corroborado a partir das premissas da abordagem de pesquisa calcada na Teoria dos Cineastas que assevera ser esta dinâmica composta por uma “constante interação entre o cineasta que se refere à sua própria obra enquanto criador e enquanto espectador e o investigador que não sendo apenas espectador é, também, um criador já que na sua relação com uma obra, também colabora com sua construção” (BAGGIO; GRAÇA; PENAFRIA, 2015, p. 22). O reconhecimento de traços coerentes entre os pensamentos teóricos de Comolli, vislumbrados em Mocarzel, poderia contribuir para a uma análise comparativa de argumentos que se transformam em teoria colocada em práxis cinematográfica e vice-versa. |
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Bibliografia | BAGGIO, E. T.; GRAÇA, A. R.; PENAFRIA, M. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. In: BAGGIO, et al. (Orgs.). Revista Científica/FAP, N. 12, jan-jun, 2015. |