ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Redes e hierarquia entre os campos da produção e distribuição |
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Autor | Debora Regina Taño |
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Resumo Expandido | Dentre os estudos de cinema no Brasil, as pesquisas envolvendo aspectos da produção de filmes são mais recorrentes do que as que envolvem a distribuição. Nas últimas décadas, no entanto, o tema tem sido objeto de trabalhos mais aprofundados, visando entender o funcionamento e o papel da distribuição dentro da indústria cinematográfica nacional. Alguns trabalhos identificam um gargalo na distribuição, sobretudo na sua relação com o mercado exibidor, seja por conta da falta de políticas protetivas, da extensa ocupação do produto estrangeiro, ou da falta de articulação entre os setores (CHALUPE, 2010; GATTI, 2005; GIMENEZ, 2015). Em outra frente, os estudos organizacionais, ao entender os modelos de empresas existentes e as formas como tais modelos se estabeleceram em diferentes períodos, permitem entender contextos sociais, com seus jogos de poder e práticas reais. As organizações podem ser objeto de análise dentro de contextos maiores, como campos de interações sociais (BOURDIEU, 1996; FLIGSTEIN; McADAM, 2012). Desta forma, há a possibilidade de enxergar a indústria de cinema no Brasil não como uma cadeia produtiva linear, mas como a interconexão entre campos autônomos e interdependentes, valorizando, assim, a atuação, os participantes, as regras e os entendimentos de cada uma das etapas em suas especificidades. Uma vez que as diversas atividade da produção e distribuição de filmes são organizadas centralizadas em empresas, sendo a ação dessas o que forma e movimenta os campos, vemos nelas um objeto de estudo promissor - e pouco utilizado. Exemplo disso é a ausência de nomes de empresas reconhecidamente relevantes para o cinema nacional na Enciclopédia do Cinema Brasileiro (RAMOS; MIRANDA, 2012). No compilado de Ramos e Miranda, no verbete distribuição consta um apanhado histórico do setor no país, citando empresas e pessoas relevantes para a área. Nos nomes das pessoas há asteriscos indicando a presença de seus próprios verbetes no volume. Nos nomes das empresas, não. Unindo tais perspectivas o presente trabalho analisa as interações entre as empresas produtoras e distribuidoras do cinema brasileiro de 1995 a 2019. Para tanto entende as etapas da produção e da distribuição como campos interconectados, imersos no macro campo da indústria cinematográfica e, assim, detentores de práticas, valores e regras próprias que podem ou não ser compartilhadas com os campos adjacentes. Por serem conectados pelas relações entre as empresas, há uma constante troca de recursos, formadora de um mercado, que mesmo sendo de ordem cooperativa, uma vez que fazem parte dos mesmos projetos, podem estabelecer características hierárquicas entre os campos, a partir da dependência relativa entre eles (FLIGSTEIN; McADAM, 2012). Tal dependência parte das interações entre as empresas que podem ser dimensionadas a partir das redes sociais formadas por elas. As redes, por meio dos tipos de ligações entre os atores, são utilizadas como base concreta para um entendimento mais amplo de situações sociais (HIGGINS; RIBEIRO, 2018). O objetivo do estudo, portanto, é identificar, por meio do mapeamento das redes formadas pelas interações entre empresas produtoras e distribuidoras nas últimas décadas, a relação de dependência entre os campos da produção e da distribuição no cinema brasileiro. Para tanto, parte das bases teóricas das teorias de campos (BOURDIEU, 1986, 1996; FLIGSTEIN; McADAM, 2012) e da análise de redes sociais (GRANOVETTER, 1977; HIGGINS; RIBEIRO, 2018; WHITE, 2005), combinadas aos estudos de distribuição do cinema nacional (CHALUPE, 2010; GATTI, 2005; GIMENEZ, 2015). |
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Bibliografia | BOURDIEU, P. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. |