ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Cartas para um Mundo Implicado: Rotas de fuga do Mundo Ordenado |
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Autor | LINA CIRINO ARAUJO OLIVEIRA DOS SANTOS |
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Resumo Expandido | Feche os olhos, elabore uma pergunta, embaralhe as cartas e leia suas respostas em imagens. Na fala-performance Corpus Infinitum, evento de abertura do IX Cachoeiradoc, Denise Ferreira da Silva (2020) faz uma pergunta às cartas de tarot: “Como o documentário pode enfrentar as questões postas pelo fato de que muitas de nossas imagens, porque limitadas pelo imaginável, podem contribuir para a continuação das modalidades de sujeição racial, colonial e cis-hetero-patricarcal que desejamos eliminar?”. A construção dessa pergunta em torno das imagens implica o “pensamento fractal, poético e composicional” de Silva (2020, p. 213) em direção a “holomovimentos” (BOHM, 2002) que nos convida a imagear o global como parte de um todo cósmico: “O pensamento poético, aplicado como um imageamento criativo (fractal) para tratar da subjugação colonial e racial, intenciona interromper a repetição características de padrões fractais” (SILVA, 2020, p. 2013). Ao mesmo tempo em que as imagens foram utilizadas para sustentar o pensamento moderno pós-iluminista que molda representações estereotipadas, distorcidas e exotificadas que perpetuam sujeições raciais, coloniais e cis-hetero-patriarcais, também podem perturbar estruturas discursivas extrativistas do capital global que limitam a nossa imaginação e, por extensão, a produção de novas imagens. Para criar imagens subversivas que rompam com as modalidades de sujeição que desejamos combater é preciso reivindicar a radical capacidade criativa da imaginação para transcender as restrições impostas pela forma como conhecemos o mundo (SILVA, 2019). Quando Silva menciona que nossas imagens são limitadas pelo imaginável na sua pergunta, ela se refere ao programa kantiano (2001) e hegeliano (1992) limitador da imaginação que influenciou o pensamento pós- iluminista que ainda opera na atualidade global. A separabilidade, no tarô, tem relação imediata com a unidade. Em Corpus Infinitum, Silva usa o tarô Rider-Waite-Smith: uma unidade fragmentada em 78 cartas, incluindo os Arcanos Maiores e Menores. Embora haja essa divisão entre os Arcanos, com seus arquétipos, números e naipes, é a interação entre as cartas que conduz a leitura do jogo (POLLACK, 1997). Uma carta está sempre inserida em um contexto de relação: seja com a pergunta do leitor, com a posição em que ela está inserida no jogo ou com as cartas que estão ao redor. A leitura de uma carta ou das relações possíveis com as outras cartas não produz significados engessados, isto é, não é determinada. E a depender dos métodos e escolhas intuitivas do leitor, não há uma sequência rígida para fazer estas conexões, ou seja, não há uma relação obrigatória de sequencialidade entre as cartas. A separabilidade, a determinabilidade e a sequencialidade (brevemente aludidos com o acontecimento da leitura do tarô) são pilares ontoepistemológicos que constituem a ideia de “Mundo Ordenado” combatido por Silva em seus textos filosóficos, livros, filmes e experimentações artísticas, incluindo a fala-performance. O “Mundo Implicado” a que se refere Silva em Corpus Infinitum é uma realidade em constante movimento e transformação, que conecta tudo o que existe, existiu e existirá, em “dobras” (MOTEN, 2003) quadrimencionais, de maneira emaranhada e interdependente, como um “Plenum”. Para incorporar a metodologia performática do tarô como uma prática de "fugitividade" (MOTEN, 2003), que possibilita expandir a imaginação e contribuir com outras epistemologias que considerem a multiplicidade e coexistência entre humanos, não-humanos e mais-que-humanos, é preciso escapar do cativeiro do “Mundo Ordenado” e atravessar abismos rumo ao “Mundo Implicado”. No rascunho deste plano de fuga, fecho os olhos e pergunto: Como o tarô pode ampliar nossa compreensão das interações entre diversas formas de existência, oferecendo abordagens holísticas para sabotar os pilares de separabilidade, sequencialidade e determinabilidade que moldaram a forma como conhecemos o mundo? |
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Bibliografia | BOHM, D. A Totalidade e a Ordem Implicada. São Paulo: Madras, 2002. |