ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Vozes narrativas: Como nossos pais, Olmo e a gaivota, Pele fina |
|
Autor | Luiz Antonio Mousinho |
|
Resumo Expandido | A tematização das relações amorosas e familiares e sua expressão em discurso cinematográfico será observada nos filmes Como nossos pais (Laís Bodanzky, 2017), Pele fina (Arthur Lins, 2022) e Olmo e a gaivota (Léa Glob e Petra Costa, 2014). Buscaremos realizar a análise e interpretação das obras rastreando aspectos de seus mecanismos de produção de sentido, os diálogos que os constituem e as relações sociais representadas nos longas. Além de elementos da análise fílmica (AUMONT, MARIE, 2004; JOLY, 2002; UCHÔA, ADAMATTI, 2020; VANOYE, GOLIOT-LÉTÉ, 1994), mobilizaremos conceitos da narratologia, da teoria/ análise do discurso bakhtiniana e das interfaces entre ficção e série social. As complexas e estimulantes articulações entre narradores secundários, focalizadores e personagens serão pensadas em seu funcionamento nas obras. Como amparo teórico investigaremos questões de perspectiva narrativa, dando especial atenção aos regimes de focalização (BURGOYNE, 1992; GENETTE, 2017; GAUDREAULT, JOST, 2009), a aspectos de entonação (BAKHTIN, 2011; STAM, 1992), bem como à investigação da atuação dos narradores segundos (GAUDREAULT, JOST, 2009), quando o personagem assume função de narrar. As relações entre as narrativas e as vozes sociais (SHOHAT; STAM, 2006) serão investigadas, com atenção às representações das relações amorosas e familiares. (ÁRIÈS, 1981; BARTHES, s/d, 1990; CENEVACCI, 1985; FERRY, 2013; FREUD, 1976; KHEL, 1993; LUHMANN, 1991; MICHEL, s/d; ORTEGA Y GASSET, 2019, SIMMEL, 2006). Dois dos filmes relacionados são ficcionais e produzidos no Brasil, enquanto Olmo e a gaivota tem direção da cineasta brasileira Petra Costa (em parceria com a dinamarquesa Léa Glob) e foi produzido na França. Além disso, enquanto os outros dois filmes são ficcionais, Olmo traz um imbricamento entre os documental e o ficcional, e nele vemos o dia a dia do casal Olívia Corsini e Serge Nicolai, atores do Teatro de Soleil. O longa acompanha sobretudo a vida diária de Olívia, sob cujo ponto de vista os sentidos do viver são percebidos em suas vacilações e ativações do gosto de ser, no trânsito entre ternuras e temores da memória que é convocada e redesenha uma trajetória, presentificada em voz over, imagens de arquivo e nas tramas entre trilha, enquadramentos, mise-en-scène, montagem e a expressão do rosto, sempre passível de trazer revelações, mesmo quando em focalização externa, conforme assinala Robert Burgoyne (1992). Em Como nossos pais, vemos a protagonista Rosa em sua rotina com o marido, com as filhas e com a mãe. As cenas de convivência entre pares familiares, agudamente ternas e tensas, são passíveis de serem analisadas a partir de sua perspectiva narrativa, e ainda pela mobilização dos diálogos, do gestual, da posição dos corpos em cena e os dados de entonação que surgem das falas e posturas. No filme Pele fina, de Arthur Lins, uma atriz se isola com a filha mais nova em uma casa de praia. É vista em momentos de prazer, de dor, de quase transe e desespero enquanto interage solitária com o texto da peça que ensaia, que traz por tema o suicídio. Com a filha, explica e reflete sobre relacionamentos, as transições da vida, a volta aos lugares de pertencimento. O contato entre a protagonista e o pai dos filhos é visto em evitações marcadas na mise-en-scène, mas também em aproximações, como em longo diálogo, num rasgar da experiência que remete a fatos, mas que é muito mais a repercussão dos fatos nos personagens, em falas de escavação íntima. Observaremos nos filmes o olhar dos personagens, enquanto focalizadores e o viés personalizado da voz, com sua virtualidade de trazer acentos e entonações, constituindo uma “interação específica de discursos (individuais e coletivos)”. (SHOHAT; STAM, 2006, p.311). Procuraremos ainda atentar nas obras referidas para as soluções estético-narrativas de desnaturalização (BARTHES, s/d) dos processos sociais. |
|
Bibliografia | ÁRIÈS, Phillipe. História social da criança e da família. trad. Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. |