ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Não-lugar e cinema queer brasileiro: uma análise do filme Tinta Bruta |
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Autor | João Paulo Pinto Wandscheer |
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Resumo Expandido | Resultado de uma dissertação publicada em abril de 2022 através do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUCRS, este trabalho consiste em uma análise das cenas de festa do filme Tinta Bruta (2018), dirigido por Marcio Reolon e Filipe Matzembacher. Serão analisadas aproximações entre atitudes dos protagonistas Pedro e Leo com o termo queer nas cenas em que ocorrem festas durante o longa-metragem. As noites de festa em Tinta Bruta evidenciam não apenas a estranheza com a qual as pessoas olham para Pedro, como também a perseguição que ele sofre devido ao preconceito relacionado a sua sexualidade. Podemos perceber, nos momentos de festa, a maneira como os protagonistas enfrentam atos preconceituosos e também encontrar aproximações de suas atitudes com o conceito de queer. O termo queer consiste em um vocábulo da língua inglesa que está associado à ideia de algo estranho e foi historicamente utilizado para ofender pessoas que não fossem heterossexuais. Louro (2018) entretanto aponta que a expressão passou a ser adotada por teóricos e militantes com o objetivo de se afirmarem politicamente e se referirem a gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans que se distanciam do que podemos compreender como assimilação. O conceito de assimilação referente à homossexualidade pode ser entendido através de duas perspectivas políticas que vêm orientando, ao longo das últimas décadas, movimentos sociais que combatem a homofobia e lutam pelos direitos de indivíduos homossexuais: o assimilacionismo e o liberacionismo. De acordo com Lacerda Júnior (2015), o primeiro consiste na reivindicação de homossexuais por tolerância e igualdade entre indivíduos homo e heterossexuais, tendo como objetivo a inserção de homossexuais à sociedade predominantemente heterossexual. Já a perspectiva política liberacionista, segundo aponta Lacerda Júnior (2015), não somente sublinha diferenças entre pessoas homo e heterossexuais, como também reivindica a legitimidade de viver tais diferenças. O liberacionismo ainda orientou, conforme relata Lacerda (2015), movimentos sociais estadunidenses que utilizavam o termo queer durante o fim da década de 80 e que não apenas combatiam a negligência do governo em relação ao avanço de casos de HIV/Aids, mas também rejeitavam estratégias assimilacionistas. É possível percebermos portanto - ao longo da história das lutas políticas - um distanciamento entre o termo queer e o assimilacionismo, bem como uma conexão com o liberacionismo. Em Tinta Bruta, Pedro e Leo não frequentam festas voltadas exclusivamente ao público gay, nem rejeitam estar com pessoas heterossexuais. O distanciamento entre os personagens e o assimilacionismo pode ser percebido através da ausência de preocupação em anular a maneira como desejam agir para se sentirem inseridos em ambientes frequentados por indivíduos heterossexuais. Pedro é um personagem que tem dificuldade em interagir com outras pessoas e o apartamento onde mora está com o aluguel atrasado. Ele ainda sofria perseguição na faculdade onde estudava e, após atingir um estado de esgotamento, dá um soco em um ex-colega durante uma festa da faculdade e acaba deixando-o cego. Pedro passa a responder um processo na Justiça e o caso viraliza na internet, intensificando o isolamento do personagem. Em meio a audiências judiciais e problemas financeiros, Pedro se apaixona e constrói um vínculo com o dançarino Leo, com quem realiza performances em frente a uma webcam passando tintas pelo corpo. Os dois ainda compartilham o sentimento de desconforto em relação à estranheza com a qual as pessoas lhes olham pelas ruas de Porto Alegre. A sensação de deslocamento que Pedro e Leo sofrem se torna evidente nas cenas de festa do longa-metragem Tinta Bruta, momentos que nos possibilitam perceber que os personagens tensionam preconceitos que persistem na sociedade. O desajuste que os protagonistas sentem ainda os aproxima de um contexto que Louro (2018) associa ao conceito de queer: o não-lugar. |
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Bibliografia | HALBERSTAM, Jack. A arte queer do fracasso. Recife: Cepe, 2020. |