ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Marte Um e M8 Estética e Fotografia Negra |
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Autor | Matheus Jose Vieira |
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Resumo Expandido | Fotografia é um meio que envolve decisões subjetivas e a forma como as tecnologias fotográficas são desenvolvidas e usadas refletem preconceitos e vieses sociais. O cinema sempre foi dominado pela ideia de que apenas os brancos são seus legítimos protagonistas, e o privilégio branco permeia todos os aspectos da sétima arte. Exemplo da racialização é o conhecido Shirley Card, cartão com padrões de cores fabricados para calibrar câmeras e que utilizava o branco caucasiano como padrão normal de cores. A professora Lorna Roth, da Concordia University, publicou em 2009 uma pesquisa sobre a evolução da geração de imagens de tom de pele, na qual destacou como a tecnologia mais antiga distorcia a aparência da pele negra. No entanto, com avanço da tecnologia, as ferramentas de cinematografia estão disponíveis com a maior parte dos vícios técnicos sanados, permitindo que os diretores de fotografia possam finalmente avançar no desenvolvimento da linguagem da direção de fotografia específica para pele negra. Vale ressaltar que a restrição orçamentária das produções brasileiras ainda se apresentam como um problema para acessar essas tecnologias. Utilizando os filmes Marte Um dirigido por Gabriel Martins e M8 Quando a Morte Socorre a Vida de Jeferson De, estabelecemos a intermidialidade como campo de estudos através das referências intermidiáticas. Relacionando diretamente com a prática de exposição e tratamento de cor da pele negra. O uso da da intermidialidade no entendimento de fronteiras e limites entre mídias é abordado por diversos pesquisadores e cineastas, entre eles Godard, o cineasta francês entre outras obras utilizou a pintura "Olympia" de Édouard Manet como uma referência visual importante. A protagonista feminina, interpretada por Brigitte Bardot, é frequentemente enquadrada em poses que referenciam as poses da Olympia, e a iluminação do filme frequentemente faz referência aos contrastes dramáticos da pintura. O filme "Marte Um", dirigido por Gabriel Martins, retrata a vida de uma família negra de classe média baixa em Contagem, Minas Gerais, onde o sonho de Deivinho, o protagonista, de se tornar um astrofísico é o fio narrativo. Em entrevista para a revista Íris, o diretor de fotografia Leonardo Feliciano revela que utilizou a especularidade, ou seja o reflexo da luz espelhado como ferramenta estética para iluminação da cena que pretendia dialogar com o universo da ficção científica, trazendo texturas metalizada para pele dos personagens. "M8 - Quando a Morte Socorre a Vida" dirigido por Jeferson De conta a história de Maurício, conta a história de um estudante de medicina que se depara com o mistério da identidade do cadáver que ele e seus colegas estão estudando. O filme aborda questões importantes como o racismo estrutural brasileiro, genocídio de pessoas negras, cotas, ancestralidade e a desigualdade social. Em entrevista para ABC o diretor de fotografia Cristiano Conceição conta que utilizou uma iluminação inspirada no trabalho do artista Kerry James Marshall, conhecido por pintar corpos negros em baixo contraste com superficies escuras, trazendo referencias únicas para a fotografia do filme, que segundo o diretor, não necessitava de luzes potentes para iluminar a pele negra. O diretor ressalta o uso de iluminação natural através de janelas e superfícies iluminadas para trazer reflexos bonitos na pele preta. Dessa forma, embora haja desafios a serem enfrentados, a direção de fotografia para pele negra está avançando em direção à diversidade e à inclusão, graças ao trabalho de diretores de fotografia comprometidos em criar uma linguagem cinematográfica que valorize a beleza e a complexidade da pele negra. Por fim, destaca-se o projeto da produtora Pródigo Filmes em conjunto com a diretora Juh Almeida chamado RGBlack - Reframing the Greatness of Black. (Retratando a Grandeza da Pele Negra) plataforma que disponibiliza cards de calibração de imagens projetados para diversos tipos de pele. |
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Bibliografia | MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Lisboa: Ed. Antígona, 2021a. |