ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A concepção sonora em Os Inocentes e sua influência na J-Horror |
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Autor | Demian Albuquerque Garcia |
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Resumo Expandido | Esta comunicação apresenta a importância da concepção sonora do filme Os Inocentes, de 1961, dirigido por Jack Clayton, e sua influência na geração de diretores japoneses contemporâneos da chamada J-horror. O filme é uma adaptação cinematográfica do livro The Turn of the Screw de Henry James, e inspirou Kiyoshi Kurosawa na maneira de pensar a representação de fantasmas em seus filmes. O design sonoro é o principal responsável pela criação uma atmosfera perturbadora e assustadora. Além da canção "O Willow Waly", que é o principal leitmotiv do filme, cantada ou murmurada pelos personagens, a partitura orquestral composta por Georges Auric é bem econômica, dando muito espaço para momentos de silêncio ou de sons ambientes. Por outro lado, a criação sonora eletrônica de Daphne Oram, que não foi creditada, acompanha principalmente os momentos mais tensos que podem significar a materialização do sobrenatural ou do desequilíbrio psicológico da personagem de Deborah Kerr. Essas sonoridades se misturam às vezes com a música de Auric ou aos efeitos sonoros, deformando também risadas infantis, sussurros ou o som do vento. A localização dos elementos da trilha sonora do filme nos espaços sonoros é muito precisa, sendo a música de Auric extra diegética e a canção tema diegética, enquanto os trechos criados por Oram estão sempre situados no espaço subjetivo/interno de Miss Gibbens. Com isso, a participação da música orquestral é mínima, enquanto os sons eletrônicos presentes no filme representam a manifestação dos fantasmas que assombram a casa ou, talvez, o leitmotiv do desequilíbrio progressivo da governanta: seriam realmente fantasmas ou fantasias? Regazzi (2013) aponta que “nesse 'entremeio' do fantástico, que apresenta uma necessária e persistente incerteza entre uma abordagem racional (alucinação, demência, distúrbios psicológicos...) e uma abordagem sobrenatural (hipótese de um surgimento real, da existência comprovada de fantasmas...), cria-se uma ambiguidade que aparece muito no cinema ocidental, e neste filme é reforçada pelo tratamento sonoro. As vozes e ruídos vocais, os efeitos sonoros e as ambiências reverberam no fora de quadro, sem que seja possível determinar se são de natureza diegética, extra diegética ou subjetiva. Os reverbs são usados sem moderação e acrescidos de um flanger e um delay nos encontros (ou alucinações) de Miss Giddens com espíritos. A comunicação quer examinar a utilização dos silêncios e dos sons no filme e também como Os Inocentes é quase uma exceção, no sentido de se pensar a construção sonora e a composição musical como elemento atracional, que é habitual no cinema ocidental, e como, por esse motivo, acaba contribuindo para se tornar uma grande referência para um grupo de cineastas japoneses contemporâneos que trabalham com cinema de fantasmas. |
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Bibliografia | CARVALHO Taynan, « O estranho prazer no medo », dans Demian GARCIA (dir.), Cinemas De Horror, 2ª edição., São José dos Pinhais, Estronho, 2016. |