ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Construção de memória de mulheres no documentário latino-americano |
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Autor | Laís de Lorenço Teixeira |
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Resumo Expandido | A produção documental latino-americana contemporânea articula subjetividade de modo a envolver a vida pessoal, pública e social de seus realizadores e protagonistas. Chamo de documentários do eu as expressões em que diversas formas de narrativas documentais se relacionam, refletindo diferentes possibilidades: autobiografia, ensaio e expressão do eu. Neste cenário, a produção de diretoras mulheres desponta, o que impõe refletir sobre os motivadores, diferenciais e características que conjugam nessas obras. Portanto, meu questionamento está em delinear linhas de força que indiquem para temáticas, recursos estéticos e de linguagem e uma dinâmica política que fundamentam e motivam essa produção. Hija de María Paz González, 2011 (85 min.), Chile e Silvia de María Silvia Esteve, 2018 (103 min.), Argentina/Chile são documentário em que as diretoras, em conjunto com familiares, constroem suas memórias. Na primeira obra, através de uma viagem pelo Chile, mãe e filha-diretora, buscam conhecer suas origens, em uma família que não inclui figuras masculinas. Na segunda, filha-diretora reconstrói a vida e imagem de sua mãe, Silvia, auxiliada não apenas por um acervo iconográfico familiar, como de relatos de suas irmãs, em uma construção sonora que joga com as origens enunciadoras. Ao partilhar a constituição de si e da outra no filme, essas mulheres se constituem enquanto eus narrativos nas obras, mobilizam memórias, atualizando-as e organizando suas narrativas de vida. Esboço como motes nestas obras, a relação entre mãe e filha, ou compartilhada entre mulheres com relações de intimidade, que possibilita a construção conjunta do filme, ou seja, ao passo que se narra sobre a outra, diz-se de si. Emprego “mulheres” (RILEY, 1988) por se tratar de uma categoria não unificada, que entrevê as múltiplas possibilidades de existência, em constante mudança, que abarca a possibilidade de inconstância e diferença no coletivo. O gênero contribui nesta pesquisa devido a identificação de um contingente de produção de autoria feminina, o que implica na reflexão do porquê desta proeminência. Neste caso, o debate tende a não encontrar motivos sólidos, delegando à questão tecnológica e de necessidade expressiva, o que pende a esmaecer o debate. Desse modo, priorizo delinear linhas de força com intuito de investigar de que forma se estabelece essa produção de si feminina atada às formas de expressão de memória que os documentários apresentam. Ao atualizarem seus passados em suas produções audiovisuais acenam para temáticas específicas de uma vivência marcada por gênero: relações filiais (pais ausentes, violência de gênero, negligência), o que extrapola o domínio privado dos eventos, e as coloca – em consonância com as práticas políticas atuais – no debate público. A memória, pelos rastros do passado, em movimento direcionado a atualização presente dos eventos (SEIXAS, 2002), não cessa de refletir politicamente, efetivando a construção de si. São trabalhos que “remetem a memória não como fixa, mas em sua dimensão atual, inventiva, mutante e (re)significante da experiência vivida e da elaboração de si, que juntas apontam para a possibilidade de constituição do político no âmbito do pessoal” (VEIGA, 2016, p. 195). Destaco como recursos fílmicos que possibilitam essa invenção: o uso de materiais de arquivo, narração, visitas a lugares de relevância em suas narrativas; dessa forma é pela articulação da linguagem documental que constitui o documentário como local de reflexão memorial. Do resquício a profusão, as obras encontram meios de melhor utilizar os artefatos a sua disposição na criação da narrativa em conjunto entre mulheres em um campo já profícuo de produção do “eu”, mas que oferece destaque a narrativas marcadas pelo gênero e sua dinâmica político-social. |
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Bibliografia | BRUZZI, Stella. New Documentary: A Critical Introduction, Psychology Press, 2000 |