ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Cinemas experimentais na América Latina: constelações |
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Autor | Theo Costa Duarte |
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Resumo Expandido | Em anos recentes um número expressivo de filmes experimentais latino-americanos antes desconhecidos ou inacessíveis aos interessados têm vindo à tona seja a partir de projetos curatoriais-historiográficos de maior fôlego (LERNER; PIAZZA, 2017), seja por intermédio de iniciativas de restauração e digitalização localizadas ou mesmo graças à maior facilidade de acesso na Internet a filmes anteriormente disponibilizados em formatos domésticos. Esse movimento tem sido acompanhado, quando não motivado, por pesquisas focadas nas obras de cineastas e em experiências conjuntas regionais e nacionais que se somam àquelas pesquisas anteriormente realizadas (como as de MANTECÓN, 2012, DENEGRI; MARÍN, 2011, MACHADO Jr., 2001, GONZÁLES; LERNER, 1998, e etc.). Diante dessa multiplicidade de “novos” filmes e de investigações aprofundadas sobre alguns deles, agregaram-se estudos comparativos entre filmes realizados em diferentes países do subcontinente em um mesmo período histórico (cf. RUIZ, 2022, CAMPOS, 2020, FAJARDO-HILL; GIUNTA, 2018, LERNER; PIAZZA, 2017, RODRÍGUEZ, 2016). Essas recentes pesquisas comparativas se justificam por inúmeras razões, a começar pela pouca visibilidade da maior parte das produções analisadas e quase completa ausência de estudos que visavam comparar as distintas vertentes do cinema experimental na América Latina, mesmo aquelas surgidas em um mesmo contexto histórico e mobilizadas por interesses compartilhados em todo o subcontinente. Também se justificam dado o potencial hermenêutico da comparação entre produções experimentais de diferentes países latino-americanos, que pode demonstrar sem muita dificuldade afinidades significativas (e, por consequência, singularidades reveladoras) determinadas ou não pela relação com movimentações artísticas transnacionais ou por vínculos sócio-históricos comuns. Pelo reconhecimento de padrões, recorrências e afinidades formais e temáticas entre obras realizadas em diferentes países em um mesmo período pôde-se constituir algumas “constelações fílmicas” (SOUTO, 2020) ainda não formuladas ou somente esboçadas nos estudos citados. Pode-se observar preliminarmente como cada uma dessas constelações se contrastam em certos pontos de modo uniforme em relação a movimentações de cinema experimental aparentemente similares nos Estados Unidos e Europa, o que, dentre outras coisas, evidencia a particularidade do conjunto das movimentações latino-americanas e mais uma vez justifica o esforço comparativo. Dentre as constelações que buscamos apresentar e discutir nessa comunicação estão dois conjuntos de filmes que se inserem em movimentações neovanguardistas que se constituíram mais decisivamente em outros campos artísticos, principalmente no das artes visuais. A primeira delas se refere a um conjunto de filmes realizados ao fim dos anos 1950 e nos anos 1960 na Argentina, Cuba, Colômbia e Brasil associados a movimentos artísticos de matriz construtivista como os diversos concretismos e a arte cinética. Filmes que se constituem em experiências de depuração plástica, desenvolvidas na articulação racional de unidades mínimas da visualidade – e que foram criticados pelo distanciamento em relação às questões políticas e sociais de seu tempo. A segunda constelação seria constituída por filmes ligados ao conceitualismo latino-americano realizados nos anos 1970, frequentemente fora dos países natais de suas realizadoras e realizadores – dado de extrema importância para análise e comparação. Esses filmes de artista, assim como os trabalhos dos diversos conceitualismos latino-americanos, dariam maior importância às ideias, à linguagem e aos modos de inserção na vida social em sobreposição aos elementos da visualidade, buscando estimular a reflexão do espectador sobre os próprios mecanismos envolvidos na produção do sentido e transmissão da informação. Em contraste com a arte conceitual anglo-saxônica esses filmes frequentemente seriam também veículos de expressão política. |
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Bibliografia | DENEGRI, A.; MARÍN, P. Dialéctica en suspenso: Argentine Experimental Film & Video. Nova York: Antennae, 2011. |