ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Corpos da cena/em cena: o audiovisual nas naturezas do comunitário |
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Autor | Angelita Maria Bogado |
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Coautor | Scheilla Franca de Souza |
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Resumo Expandido | Das relações de afeto entre os estudantes do Projeto Soma+ nasce Pretos Ganhando dinheiro incomoda demais (Criolo, 2023), uma fábula audiovisual que, na sua proposição, semeia elementos estético/políticos de naturezas históricas e de saberes dissidentes que remetem a herança afrodiaspórica nas Américas. Para colher imagens contra hegemônicas, vamos investir na sensibilidade analítica das naturezas dos corpos em cena/da cena (BOGADO e SOUZA, 2022). Nesse sentido, nos parece interessante pontuar nossa concepção de corpo da cena/corpo em cena. O conceito foi construído a partir da ideia de mise-en-scène (COMOLLI, 2008), contudo, trouxemos as relações de vida/arte, próprio/comum, território/espaço-fílmico, incorporando ao pensamento de Comolli, as dinâmicas de vida responsáveis por parir as corporalidades audiovisuais, em suas performances da cena (ou seja, o corpo audiovisual em diálogo com o vivido) e nas performances em cena (corpos filmados que emanam vivências e desaguam no engajamento da espectatorialidade). Nossa investigação sobre os corpos da cena/em cena do videoclipe, nos permite observar, por meio da sensibilidade analítica interseccional, essa oferenda ancestral (AKOTIRENE, 2019) em diálogo com os cruzos (RUFINO, 2019), e as performances do tempo espiralar (MARTINS, 2022). A interseccionalidade, enquanto conceito da teoria crítica do feminismo negro, instrumentaliza e aponta o pensamento para a questão da inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo, sexismo, opressão de classe e patriarcado - responsáveis pelo extrativismo histórico brasileiro. As imagens do clipe de Criolo enfrentam esta encruzilhada teórica e propõe uma outra cartografia do saber, reconectando natureza e humanidade e tantos outros modelos dicotômicos produzidos pelo capital global. Esta ecologia da imagem, ancorada na inseparabilidade das coisas, compõe o ebó metodológico de natureza decolonial que ofertamos. Ao mirarmos esta fábula audiovisual, nosso olhar espectatorial analítico/fabulatório encontra os olhos mareados da protagonista - carregados de afeto e luta – um cruzamento que nos alimenta e nos dá sombra e encantamento para trazer-nos e encontrar-nos nesta escrita, imaginada por nós e entre nós. A fábula começa com uma criança negra em um território periférico, com sua família, vendo pela televisão imagens hegemônicas sobre as populações daquela morada. Por meio de uma moeda, guardada em um porta-joias, com a inscrição ano de 1835 e uma árvore no verso, são acionadas lutas históricas e forças ancestrais. Os corpos da cena - aspectos estéticos - são arvorados, como o movimento de crescimento da árvore, do chão à copa, e dão a ver a Anastácia sem a máscara, liberta para falar. Vemos também a criança com a frontalidade do rosto, o rodar das moedas nas mãos, uma árvore genealógica em forma de fotografias. A ancestralidade e os corpos em cena/da cena a ela relacionados aparecem ligados à natureza do cotidiano. Estes elementos vão mostrar o ancestral em seu caráter vivo e coletivo, mobilizando-o para as lutas históricas que seguem necessárias. A criança, a realeza ancestral, a pipa são elementos que apareceram em nossos estudos anteriores (BOGADO e SOUZA, 2022) nos audiovisuais periféricos, que aqui se unem à natureza (a madeira dos objetos de culto, o metal da moeda, a árvore de Ouro, o mar dos olhos, a terra). Estes corpos em cena, acionados pelos aspectos estéticos dos corpos da cena, rompem com o sistema de poder e lógica da branquitude, com o brotar das árvores de Ouro em outros territórios periféricos, nutrindo a relação entre natureza e coletividade. |
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Bibliografia | AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. |