ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Recepção e EPC: um caminho para políticas públicas para o audiovisual |
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Autor | Danielle dos Santos Borges |
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Resumo Expandido | De um modo geral, os estudos de recepção recentes realizados sob a perspectiva das mediações (abordagem sociocultural), vêm se concentrando no sujeito, muitas vezes de forma isolada, sem considerá-lo em seu contexto social e cultural, e têm deixado de lado questões relevantes relacionadas à Economia Política da Comunicação (EPC). Ou seja, embora a aproximação ao conceito de mediações tenha permitido voltar o olhar das pesquisas para o sujeito, que, naquele momento, era subsumido nos trabalhos sobre os emissores e os processos de produção, agora parece acontecer um problema inverso, em que as mediações dos emissores e o contexto econômico de produção e circulação vêm sendo negligenciados nos estudos de recepção mais recentes no país, gerando pesquisas pouco engajadas com a realidade social. Nesse sentido, Escosteguy (2008) apresenta um protocolo teórico-metodológico que reivindica uma visão global e complexa do processo comunicativo, sustentada na ideia de integração do espaço da produção e da recepção, com base nas propostas de autores como Martín-Barbero e Stuart Hall, alegando que a maioria dos trabalhos no campo não têm analisado esses âmbitos de forma articulada e a aplicação dessas teorias nos estudos realizados têm deixado um pouco de lado as mediações dos emissores e o contexto de produção e circulação dos produtos audiovisuais analisados. "A proposta do autor (Hall) tenta preservar a dinâmica do processo, desafiando a ideia de hierarquia entre produção e recepção, e de correspondência obrigatória entre elas, embora admita que é a produção que constrói a mensagem e que o circuito aí se inicia. Na estrutura de produção contam tanto a estrutura institucional, as rotinas de produção, a interferência de ideologias profissionais e hipóteses sobre a audiência como o meio social de onde são retirados “assuntos, tratamentos, agendas, eventos, equipes, imagens da audiência, ‘definições de situação’ de outras fontes e outras formações discursivas” (Hall 2003: 389). Forças que, também, constituem a audiência." (ESCOSTEGUY, 2008, p. 214) A pesquisadora complementa chamando a atenção para a mediação da “institucionalidade”, como aspecto que daria conta “das relações de poder dos grupos sociais, políticos e econômicos e suas tentativas, sucessos e fracassos na instância da produção”, destacando ainda que “a materialidade desta mediação está profundamente relacionada com a estrutura econômica e os conteúdos ideológicos” (idem, 2008, p. 130). Na mesma direção, Florencia Saintout e Natalia Ferrante (2011), ao escreverem sobre os estudos de recepção realizados na Argentina, apontam a despolitização como um aspecto problemático dessas pesquisas, característica que pode ser dita a respeito também dos estudos realizados no Brasil. Na visão delas: "(…) o que sucede agora nos estudos contemporâneos poderia assinalar-se como um esquecimento da estrutura e do poder em prol da ênfase da vida cotidiana, de atores que parecem situar-se sem relação com a estrutura do espaço social, não porque se desconheça que ela exista, mas porque simplesmente não se trabalha a articulação com ela." (SAINTOUT; FERRANTE, 2011, p. 34, apud JACKS, 2015, p. 246) No Brasil, sobretudo, é importante considerar que “os meios atuam como reforço do status quo e das relações de poder estabelecidas, posicionando-se ao lado das lideranças políticas, quando deveriam ser porta-vozes da sociedade mais ampla. Portanto, os estudos das audiências também teriam que enfocar o aspecto mais ‘político’ da relação entre meios e sociedade” (Jacks et al, 2014, p. 112). Em nosso ponto de vista, nesse sentido, a consideração de fundamentos da Economia Política da Comunicação e da Cultura nos estudos de recepção pode contribuir à inclusão das instâncias de política e de poder nas análises realizadas, instâncias essas cruciais para a aproximação das pesquisas do campo à proposição de políticas públicas para o audiovisual que possibilitem um cenário cultural mais democrático. |
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Bibliografia | BOURDIEU, María Victoria. La mirada interdisciplinaria en la reflexión sobre contenidos televisivos. In: IV Congreso Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual. Rosario: Universidad Nacional de Rosario, Argentina, Março de 2014. |