ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Cinema militante: contornos conceituais |
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Autor | Carlos Eduardo da Silva Ribeiro |
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Resumo Expandido | A proposta desta apresentação é fazer uma revisão crítica da literatura existente sobre o documentário militante e interrogar como a categoria se atualiza na produção bibliográfica e fílmica no Brasil recente. Ela parte de um recorte de tese em desenvolvimento no PPGCOM UFRGS, a qual indaga sobre as maneiras com que Martírio (2016, Vincent Carvalho, Ernesto de Carvalho, Tatiana Almeida) se relaciona à tradição brasileira de documentário militante. Como comentou certa vez Amaranta Cesar em 2017, o Brasil vem sentindo, pelo menos desde os anos 2000, “a proliferação de filmes gestados em contextos de disputas políticas e em associação com movimentos sociais diversos, realizados seja para circulação no cinema ou na internet, nos quais se inscreve o desejo explícito de intervenção social” (2017, p. 11). Essa proliferação convoca a pensar os contornos conceituais e práticos em que se dá esse cinema, como já vêm fazendo pesquisadoras e pesquisadores no Brasil (CESAR, 2017; FAGIOLI, 2017; GUTFREIND, 2012) e fora dele (BRENEZ, 2017; COMOLLI, 2015). O conceito de “cinema militante” se refere ao cinema operacionalizado como ferramenta política na denúncia de denunciar injustiças e/ou na mobilização no entorno de causas. Ganhou notoriedade na virada dos anos 1960 e 1970 nos debates relacionados ao Terceiro Cinema na Argentina e no trabalho da crítica de cinema francesa. Para Octavio Getino e Fernando Solanas (1969, p. 1), dupla de autores seminais do Terceiro Cinema, o cinema militante seria de causas, enquanto o cinema-espetáculo, pelo qual se define em contraste, seria um cinema de efeitos. A definição converge à de Serge Daney (2007), co-editor da revista francesa de crítica de cinema Cahiers du Cinema na segunda metade dos anos 70, para quem o filme militante é o que instrumentaliza o cinema a serviço de alguma causa. Algumas discussões que comparecem nas discussões do conceito são: a diferença entre o cinema idealista e materialista; a utilização do cinema por grupos políticos e minorias ou por seus aliados; a potência ou não desse cinema em converter o inimigo e sensibilizar os ainda não sensibilizados; seu teor teleológico ou não; sua diferença com o mero filme sobre política; se o seu caráter instrumental não acabaria por menosprezar o público e/ou o potencial estético do cinema. Tanto o cinema quanto as lutas se transformaram desde o fim da década de 1960. Isso demanda, a partir de outros filmes e de outra conjuntura, colocar certas questões e reconsiderar as questões colocadas. Algumas diferenças identificáveis entre o contexto do século XX e o contemporâneo são: certo descentramento do operário e do campesino no protagonismo dos filmes militantes, em favor de uma maior multiplicidade de sujeitos; a ampliação da tomada da câmera e da autoria pelos sujeitos afetados pelas lutas; a proliferação e descentralização geográfica dos realizadores e das lutas; as transformações paradigmáticas associadas às lutas e à política; mudanças estilísticas nos filmes que, na linguagem contemporânea, parecem abrir maior espaço ao reflexivo e uma outra função ao autor; dentre outras. Juntamente a essas considerações, o trabalho interroga como o cinema militante se atualiza na produção fílmica no Brasil recente, o que pode incluir, sempre de maneiras diferentes, filmes como: Atrás da Porta (2010, Vladimir Seixas), Na missão, com Kadu (2016, Aiano Bemfica, Kadu Freitas e Pedro Maia de Brito), Cadê Edson? (2019, Dácia Ibiapina), Primavera secundarista (2016, Maíra Kaline), Chão (2019, Camila Freitas), Martírio (2016, Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho, Tita), Guardiões da floresta (2019, Jocy Guajajara, Milson Guajajara), Essa terra é nossa (2020, Carolina Canguçu, Isael Maxakali, Roberto Romero e Sueli Maxakali), Já vimos esse filme (2018, Boca Migotto), A revolta do buzu (2004, Carlos Pronzato). |
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Bibliografia | BRENEZ, Nicole. Contraataques. In: DIDI-HUBERMAN, Georges (Org.). Insurreciones. Espanha: Museu Nacional d'Art de Catalunya, 2017. 227p. |