ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Migração e natureza latino-americana no documentário transnacional con |
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Autor | Filipa Raposo do Amaral Ribeiro do Rosário |
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Resumo Expandido | O zeitgeist contemporâneo corresponde à experiência global de “precariedade, sobre-exploração, solidão extrema e humilhação disseminada (Berardi, 2023), dando origem a uma sensação generalizada do fim dos tempos, em última análise gerada pela desarticulação das relações coletivas devido a políticas e mentalidades neoliberais. Migração e capitalismo entrelaçam-se numa relação dialética de formação e transformação recíproca. Os movimentos transatlânticos de pessoas foram as premissas das primeiras formações capitalistas que, no séc. XIX, geraram regimes de colonialismo, deslocação, e recolocação de populações – escravizadas, precárias ou proletárias (Lem & Barber 2013: 357-8). A migração enquanto fenómeno social sempre foi efeito da expropriação de terras, que, na era contemporânea, se liga à acumulação capitalista da propriedade privada (Nail 2015: 6). Hoje, o migrante é considerado uma figura-chave do século XXI (UN’s Global Trends Report 2021). Em Territorio (Alexandra Cuesta, Equador, 2016, 65’), a câmara atravessa o Equador, viajando no oceano, pelas montanhas, acabando na selva, retratando paisagens e a população. El mar la mar (J.P. Sniadecki e Joshua Bonnetta, EUA, 2017, 94’) filma o Deserto de Sonora, na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América, onde se localiza um dos trilhos mais fatais percorridos pelos imigrantes ilegais daquela parte do mundo. ELDORADO XXI (Salomé Lamas, Portugal, 2016, 125’) retrata a comunidade de mineiros que vive, em pobreza extrema, nos Andes peruanos. Foram viver para La Rinconada Y Cerro Lunar, a 5500 metros de altitude, na demanda do ouro que poderá trazer condições básicas de vida. Todos estes filmes tematizam a ideia de movimento, de migração, em territórios não-ocidentais através de experiências com a natureza. Este trabalho parte da análise formal das paisagens “naturais” ocidentais retratados nos movimentos destes três filmes, para compreender de que forma o cinema contemporâneo transnacional codifica a atual estrutura de sentimento (Williams, 1980) apocalíptica, gerada pelo tardo capitalismo e pela globalização.Será considerada a representação do mundo natural em articulação com o sublime, pois esta é a categoria estética que mais ajustadamente alberga narrativas apocalípticas (Germana & Mousoutzanis 2014). Assim, este trabalho aborda o sublime enquanto conceito fílmico, provocado por uma experiência psicofisiológica, isto é, implicando a fusão ambígua entre medo e prazer gerada por uma vivência ou espetáculo avassalador (Burke, 1757). Desta forma, o trabalho apresenta, também, um quadro teórico e analítico no âmbito da investigação do sublime contemporâneo enquanto conceito não-eurocêntrico. |
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Bibliografia | Bayraktar, N. (2016) Mobility and Migration in Film and Moving-Image Art: Cinema Beyond Europe. Taylor & Francis. |