ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | À margem da imagem: Amazônia e ditadura militar |
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Autor | Mariana Lucas |
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Resumo Expandido | No Plano de Desenvolvimento Nacional(1975-1979), a Amazônia é identificada como um desafio agrícola de proporções gigantescas. O documento reconhece a necessidade de tirar proveito da infraestrutura promovida pelo Estado para viabilizar a ocupação produtiva da região. Era preciso “integrar para não entregar”, nestes termos, a parceria dos militares com agentes do capital privado (nacional e internacional) apresentaram-se enquanto intermediários aptos a solucionar o problema amazônico e por fim, colonizar a última fronteira que impedia o Brasil de entrar em compasso com a ordem do capital mundial. A partir de 1966, distanciando-se de uma atuação paternalista, característica das políticas varguistas, o Estado passa a direcionar sua atuação ao investimento infraestrutural, pesquisa e planejamento, que demandam um montante de capital elevado com retorno a longo prazo. Criando, assim, condições favoráveis para ampliar a escala social da reprodução geral do capital. Desestimulando a produção extrativista, promovendo iniciativas para que esta fosse substituída por atividades mais rentáveis, iniciativas ligadas ao desenvolvimento agrícola, pecuária, mineral e metalúrgica, passam a protagonizar a agenda econômica na região. O Projeto Jarí talvez tenha sido a apoteose do imaginário desenvolvimentista, que norteou a política econômica durante a ditadura militar. Na presente proposta, será realizada uma análise comparativa a partir das obras : O projeto Jarí, Jean Manzon (1977) e Jarí, Jorge Bodanzky e Wolf Gauer (1979). No documentário de Jean Manzon é possível identificar a formalização do imaginário desenvolvimentista na Amazônia, a imagem positivada (CARDENUTO, 2009, p. 71) da empreitada privada, que representa o empresariado enquanto vanguarda responsável pelo desenvolvimento nacional: “Projeto Jarí fez desse rio um caminho natural para os pioneiros”, anuncia o narrador. O filme de Manzon, retrata o Projeto Jarí em todo seu virtuosismo, a promessa de bem-estar não apenas beneficia o trabalhador, que finalmente teve acesso à educação, moradia e alimentação de qualidade, graças à “consciência social” do empresariado, mas toda a nação celebra e enriquece com a derrubada do último enclave ao avanço do progresso nacional. Já no filme de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, a noção do desenvolvimentismo enquanto ação catastrófica é o que estrutura a obra. Os diretores, à convite do então senador Evandro Carreira (MDB), o acompanharam na primeira CPI da Amazônia. O documentário se contrapõe às imagens do discurso oficial captadas por Gauer e Bodanzky durante a CPI, com aquelas que serão gravadas ao término da mesma, quando os senadores deixam o Projeto Jarí e os diretores decidem ficar para entrevistar os trabalhadores. A partir destas entrevistas, um desmanche do discurso desenvolvimentista triunfalista é operado. A imagem que emerge é um contra-arquivo do progresso. A análise destes dois filmes almeja: compreender a construção discursiva dos militares em torno da Amazônia, sobretudo, a maneira como o imaginário desenvolvimentista foi formalizado em filmes produzidos na região. Por meio desta metodologia comparativa, ao analisar uma produção que compactua com a visão do regime, contrapondo-a a um documentário crítico à ação dos militares, uma arqueologia da imagem revela-se, tão urgente quanto necessária, em um movimento aparentemente ambíguo, em que observar os nexos relacionas de regimes de historicidades pregressas permite compreender a maneira que estes corroboram para construção discursiva e visual dos militares em torno da Amazônia. |
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Bibliografia | ANDRADE, Rômulo de Paula. Amazônia: Ciência, Saúde e Tecnologia nas produções de Manzon Films. XXVIII Simpósio Nacional de História: Lugares dos historiadores , velhos e novos desafios, Florianópolis. 27 a 31 de julho de 2015. |