ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Audiovisuais da fronteira: apagamentos e resistências on e off-line. |
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Autor | Eduardo Silva Salvino |
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Resumo Expandido | “tudo que não é branco é preto”. Eduardo Salvino (2022) Os audiovisuais “AI, Ain’t I a Woman?”, 2018; “Blackbird”, 2008, e “A máquina normalizadora”, 2018, — questionam enquanto forma e conceito — pertencimentos e procedimentos, enfim, narrativas que se formatam no espaço da informação e se avizinham. Eles têm em comum: rastro, padrão e predição, numa interpolação contínua para pensarmos uma contracolonização imagética e sonora; enfim, roupagens em desacordo com os parâmetros dados nos audiovisuais que contêm algoritmos e inteligência artificial (IA). Enquadramento, frames que se querem sempre brancos e/ou pautados pela branquitude, com sua negrofobia (FANON, 2008) coadunando com o racismo que continua apagando outros povos e culturas. Assim, aqui se permitem reflexões, sobre a inteligência conectada aos sistemas biológicos ou maquínicos, possibilitada pelas interfaces e/ou mesmo a “interface aumentada” (HOOKWAY, 2014, p. 122), e, também, a materialização de infinitas subjetividades para tensionar as subjetividades racializadas, e colocar em relevo a negritude (CÉSAIRE, 2022). É o que fez a “poetisa do código”, Joy Buolamwini, que pensa uma IA que seja “equitativa e responsável”, ao questionar a dificuldade do software que usava, em suas pesquisas, em reconhecer rostos, assim como o seu de pele escura. Seu audiovisual “AI, Ain’t I a Woman?”, tido, também, como auditoria visual de palavras faladas (DOUGHERTY, 2019), mostra falhas de inteligência artificial nos rostos de duas mulheres negras, Oprah Winfrey e Michelle Obama. Outro trabalho que explora esse espelho opaco que é a interface on-line é “Blackbird” (TECHCRUNCH, 2008), um navegador experimental de código aberto desenvolvido a partir do Mozilla Firefox. “Blackbird” facilita para afro-americanos a descoberta de conteúdo relevante na Web, permite que eles interajam com outros membros de sua comunidade on-line compartilhando histórias, notícias, comentários e vídeos. Os desenvolvedores da plataforma ativam também o universo off-line ao criar a iniciativa “Give Back”, que agiliza doações para várias organizações sem fins lucrativos. Padrões tecnológicos invisíveis só reforçam o abismo do acúmulo de objetos midiáticos e culturais orquestrado pela branquitude, afirma Tarcízio Silva (2022). Essa hiper-representação, em certa medida, pode ser conferida em “This-Person-Does-not-Exist.com” (2021). Ao entrar no site, o usuário, imediatamente, se depara com um rosto gerado aleatoriamente. Interessante observar o enviesamento dos erros nas construções das falsas faces, pois numa interação continuada quase não se veem rostos de negras(os), mesmo quando o interator determine padrão de gênero e raça. Como o sujeito branco é um ser não racializado, mostraremos trabalhos que discutem o racismo a partir das perspectivas de outros povos e culturas, como a instalação interativa “A máquina normalizadora”, que identifica e analisa a imagem da normalidade social. Realizada pelo educador e mídia-ativista israelense Mushon Zer-Aviv, a obra não seria exatamente um contraponto a “This-Person-Does-not-Exist.com”, até porque esta não é uma obra de arte. A partir de uma lista de participantes previamente gravados, é solicitado a cada interator apontar quem parece normal. O trabalho analisa as decisões destes e as adiciona à sua imagem algorítmica, que supostamente agregava normalidade. É o aprendizado de máquina automatizando e amplificando os retratos falados do francês Alphonse Bertillon (1853-1914), o criador do primeiro método científico de identificação criminal. Vimos nessa jornada, consoante a epígrafe deste texto, que se fazer preto é, também, permitir o devir ilimitado, e que pode, sim, ser iridescente. Iridescência presente nos trabalhos “AI, Ain’t I a Woman?”, de Buolamwini; “Blackbird” e “A máquina normalizadora”, de Mushon Zer-Aviv, mas não confirmado em “This-Person-Does-not-Exist.com”, com seu banco de dados facial majoritariamente branco. |
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Bibliografia | CÉSAIRE, Aimé. Textos escolhidos. Tradutor Sebastião Nascimento. Coleção Encruzilhada p.211-229. Ed. Cobogó, Rio de Janeiro - 1ªED. (2022). |