ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O processo de censura ao Estranho Mundo de Zé do Caixão |
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Autor | Giancarlo Backes Couto |
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Resumo Expandido | Este trabalho faz parte da pesquisa de doutorado que busca investigar os relatórios de censura à filmografia de José Mojica Marins, produzidos pelo governo durante a Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Como objeto de análise foi coletada toda a documentação disponível no Acervo da DCDP (Divisão de Censura às Diversões Públicas) no Arquivo Nacional referente aos processos de censura, bem como os filmes do diretor. Nessa apresentação, o foco será o processo do filme O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968). Este é o quarto filme de horror de Mojica, sendo o primeiro a ser completamente interditado. A obra contém três contos de horror, que formam uma antologia, sendo o último, chamado Ideologia, o objeto de maior polêmica entre os censores, por suas cenas de tortura, violência e canibalismo. O longa-metragem foi submetido a censura no dia 25 de julho de 1968, tendo sido completamente interditado no dia 29 do mesmo mês, quatro dias depois. A análise dessa documentação demonstra a ideia muito comum entre os censores de que obras artísticas poderiam exercer influência negativa na sociedade, assim, estes funcionários agiriam como defensores da sociedade (KUSHNIR, 2012). José Vieira Madeira escreve, por exemplo, que “o filme contém influências criminógenas e perniciosas à moralidade, aos costumes e à religião, e, se liberado, poderá exercer influência extensamente perniciosa à qualquer público [...]” (Acervo da DCDP no Arquivo Nacional, BRDFANBSBNS.CPR.CIN.FIL.30325). Logo, a violência e o atentado contra a moral teriam o mesmo potencial de gatilho no espectador. Outro ponto a ser abordado são os discursos sobre a anormalidade (FOUCAULT, 2010) estabelecidos como critério de interdição da obra. Nesses relatórios, chama atenção a caracterização que se faz de quem produziu o filme e não da obra em si. A escolha de palavras de um Censor não identificado para iniciar seu relatório dá o tom: “É inaceitável que alguém de mente sã possa sequer pensar em realizar um filme como êsse”. A censora Maria de Almeida destaca que é inconcebível “que alguém de mente sã possa fazer um filme dessa natureza”. Ou seja, busca-se impor um discurso acerca da figura de Mojica para justificar os cortes e a proibição a seu filme. Após uma nova submissão e uma série de trocas de cartas entre o produtor de Estranho Mundo e o Departamento de Censura, no dia 9 de setembro o Coronel Raul Lopez Munhoz acabou por liberar o filme com uma longa lista de cortes, em suma de cenas que apresentavam alto teor de violência. Além disso, a pedido da censura, um final “mais positivo” foi inserido no filme, destacando a punição àqueles que cometeram os crimes que aparecem no longa. É importante destacar também que o filme foi exibido aos alunos do curso de censores, fazendo parte de um exercício prático de censura, no qual os estudantes avaliaram a obra e produziram relatórios que foram avaliados por seus tutores. Assim, o processo de censura de O Estranho Mundo acaba por se mostrar como um exemplo importante para entender as motivações e os discursos que engendravam a censura federal em seu primeiro período sob o governo dos militares. |
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Bibliografia | BARCINSKI, André; FINOTTI, Ivan. Zé do Caixão: Maldito - a biografia. 2. ed. Rio de |