ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | "Sob as pedras do chão", de Olga Futemma: análise de um primeiro filme |
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Autor | Hanna Henck Dias Esperança |
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Resumo Expandido | A proposta desta comunicação surge a partir da elaboração em andamento da minha tese de doutorado “O cinema de Olga Futemma: trajetória de uma experiência entre culturas”, onde discuto a filmografia de Olga Futemma a partir de conceitos chaves como autobiografia, filme-ensaio e diáspora. No âmbito do cinema brasileiro, Futemma ficou conhecida pelo seu extenso trabalho na Cinemateca Brasileira, onde atua há quase cinquenta anos na área de preservação. Menos reconhecido, entretanto, é o seu trabalho como cineasta entre as décadas de 1970 e 1980, período em que dirigiu cinco curtas-metragens, os documentários “Sob as pedras do chão” (1973), “Trabalhadoras metalúrgicas” (codireção Renato Tapajós, 1978), “Retratos de Hideko” (1981) e “Hia sá sá – hai yah!” (1985), e a ficção “Chá verde e arroz” (1989). Filha de imigrantes okinawanos, Futemma dedicou quase todos os seus filmes às questões da imigração japonesa e aos desdobramentos identitários e culturais que emergem a partir da experiência do deslocamento, utilizando de elementos particulares da autobiografia e do filme-ensaio para discutir a própria identidade nissei, a memória migratória e a relação por vezes conflituosa que marca a diferença geracional. “Sob as pedras do chão” é a primeira realização de Futemma e a única sem cópias digitais. Como consequência, só foi possível visualizá-la recentemente no acervo da Cinemateca Brasileira, em momento posterior à estruturação das hipóteses da tese. Até então, as informações encontradas abrangiam apenas a sinopse e a ficha técnica do filme, identificando-o como um documentário de curta-metragem encomendado pelo Departamento do Filme Educativo da Embrafilme. Além disso, a ficha técnica informava a presença de um texto escrito por Futemma e narrado por Othon Bastos, enquanto a sinopse caracterizava o filme como um retrato do bairro da Liberdade, local na cidade de São Paulo onde há forte presença da comunidade nipo-brasileira. A partir dessas informações, considerei a possibilidade do documentário ser mais tradicional em comparação às realizações posteriores de Futemma, como “Retratos de Hideko” e “Hia sá sá – hai yah!”. Em texto de 2021, é possível entender a abordagem adotada anteriormente à visualização de “Sob as pedras do chão”: “[...] ainda que o documentário não seja explicitamente autobiográfico, de modo que não há transposição da vida privada da diretora para a diegese do filme, ele já carrega aspectos da vivência de Futemma, tanto pela sua relação pessoal com a cultura japonesa e a brasileira, como também pelo fato do filme não se concentrar em um espaço geográfico qualquer, mas em um que está intimamente ligado à história particular da realizadora. Em entrevista mencionada anteriormente [HOLANDA, 2020], Futemma reconta como o bairro da Liberdade foi parte central da sua infância e da sua formação cinematográfica, em que os cinemas japoneses ali localizados integravam o lazer familiar e foram responsáveis pelo seu contato com a cinematografia japonesa...” (ESPERANÇA, 2021). A abordagem era, portanto, de que a dimensão autobiográfica do filme existia apenas a partir de uma perspectiva extra fílmica, e que a relação com a obra de Futemma era sobretudo temática. Entretanto, “Sob as pedras do chão” se mostrou extremamente conectado com a filmografia da diretora, para além dos temas em comum, e com diversos elementos que o distinguem da produção cinematográfica da época. Proponho, portanto, uma análise do documentário a partir dessas novas interpretações, com o objetivo de entender de que forma ele se relaciona com as outras realizações de Futemma e se também é possível discuti-lo a partir dos estudos autobiográficos e ensaísticos. |
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Bibliografia | ADORNO, Theodor. O ensaio como forma. In: ADORNO, Theodor. Notas de literatura I. São Paulo: Editora 34, 2003. |