ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Da opacidade ao hiper-realismo em RRR |
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Autor | Ian Costa Cavalcanti |
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Resumo Expandido | O realismo é apontado por Aguilar (2006) como a expressão vitoriosa do cinema. Tal premissa, coerente em uma visão ocidental, é posta à prova quando pensamos na consolidação de conjuntos estilísticos do cinema indiano. A influência musical da cinematografia industrial da Índia é marcada por esquemas de representação que privilegiam o espetáculo em detrimento da credulidade mimética, sobretudo quando se trata da dimensão sonora das produções audiovisuais. É o caso de RRR (Rise, Roar, Rovolt, S. S. Rajamouli, 2022), filme enquadrado no formato “masala” (KREUTZ, 2019), caracterizado por sequências musicais e pela pluralidade de gêneros narrativos em uma mesma obra, configuração usualmente associada à indústria de Bollywood. RRR, entretanto, é um filme realizado em Tollywood, termo destinado às produções do complexo cinematográfico de Tollynguge, em Kolkata, utilizando o idioma telegu, enquanto Bollywood é a expressão destinada às produções realizadas em Mumbai, falado em hindi. Apesar das diferenças geográficas e idiomáticas, Kumar (2008) aponta que as diretrizes estilísticas de ambos partem da mesma lógica, destacando-se a preferência do som construído prioritariamente em pós-produção. Tal escolha deriva de fatores como a predominância da dublagem devido à diversidade idiomática dentro da Índia e da fortíssima ligação da indústria cinematográfica com a musical (BALLERINI, 2009), assim como a constância de cenas de canto e dança ou em locações com grande quantidade de atores, o que dificulta a gravação de som direto. A trilha de áudio é quase sempre criada em sua totalidade na pós-produção, com adição de efeitos sonoros, os quais nem sempre correspondem perfeitamente às representações realistas no que diz respeito à verossimilhança e sincronização (KREUTZ, 2019). Tais escolhas demonstram a influência que os musicais hollywoodianos da metade do século passado exercem sobre o cinema indiano, o que acabou se cristalizando em um padrão estilístico pouco flexível, dotado de cenas sem construção das ambiências sonoras, com falas dubladas e efeitos pontuais, distanciando-se de um realismo alcançado pela criação dos espaços sonoros . Kreutz (2019) destaca que enquanto os norte-americanos tentavam manter o realismo e disfarçar o fato de que as pessoas começavam a cantar e a dançar no meio das histórias, os indianos simplesmente optaram por assumir que aquilo que estava na tela era mera ficção, o que revela a opacidade (XAVIER, 2005) deste formato que se irradia por demais escolhas estilísticas do cinema indiano mainstream (BALLERINI, 2009). A rarefação das sonoridades em RRR divide espaço com sua antítese, prevalecendo nas sequências de ação a escolha por sonoridades hiper-reais (BUHLER, 2020) mais intensas que o referencial tangível, visando impacto perceptivo, bem como de significâncias implícitas em sonoridades reproduzidas (CHION, 2008) nas recorrentes cenas em baixa velocidade. A constituição de tais práticas estilísticas, ao passo que desafia a teoria da continuidade intensificada de Bordwell (2006) no que tange o caráter imersivo da narrativa, a justifica pela intensificação de operações de construção de sentido, como o uso do som hiper-real em larga escala. Embora Aguilar (2006) defenda um gradativo percurso dos elementos audiovisuais em direção ao realismo, RRR demonstra um caminho de representação de um espetáculo partindo da opacidade até o hiper-realismo, sem escalas na verossimilhança. Esta comunicação tem por objetivo analisar constituição sonora do filme RRR, compreendendo aproximações e distanciamentos do viés realista através dos elementos sônicos, destacando-se a rarefação de ambiências sonoras e a constituição de sons hiper-realistas. A partir de revisão bibliográfica e da análise fílmica (AUMONT; MARIE, 2004), este estudo lança olhar sobre a constituição do estilo sonoro desta produção indiana sob o prisma dos conceitos de opacidade e transparência (XAVIER, 2005) e da continuidade intensificada (BORDWELL, 2006). |
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Bibliografia | AGUILAR, G. Otros mundos: Ensayo sobre el nuevo cine argentino. Buenos Aires: Santiago Arcos, 2006. |