ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Moral e melodrama nas micronarrativas do canal de Deivison Nascimento |
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Autor | Adil Giovanni Lepri |
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Resumo Expandido | Esta comunicação pretende investigar o trabalho de Deivison Nascimento, um produtor de vídeos curtos na internet especializado em micronarrativas ficcionais que apresentam situações-problema ligadas a aspectos morais, ou como ele coloca em sua biografia “histórias curtas que tinham começo, meio e fim”. A hipótese é de que a produção audiovisual em questão, baseada no modo melodramático, funcione como uma espécie de linha auxiliar do controle social da norma no âmbito de comunidades ligadas à religiosidade neopentecostal (Machado, 2018), embora os produtores não se posicionem abertamente como religiosos. De início foi feita a coleta das informações de vídeos e comentários do canal utilizando o método de raspagem da web através do YouTube Data Tools (Rieder, 2015), coletando todos os vídeos que foram postados. Com os dados quantitativos em mãos, foram escolhidos os três vídeos mais comentados como estudos de caso para uma breve análise fílmica e uma análise estrutural de sua narrativa, olhando para a organização de seus enredos através do prisma da moral. O modo narrativo melodramático é a base da estrutura narrativa dos vídeos, voltada para personagens vítimas que, após serem vilipendiadas por alguém prevalecem no embate entre bem e mal através do reconhecimento e reafirmação de suas virtudes (Elsaesser, 1991; Brooks, 1995; Martín-Barbero, 2001). No entanto, a maneira como as personagens são caracterizadas e os desfechos apontam para uma aderência muito forte à estirpe do melodrama que descende das morality plays medievais (Elsaesser, 1991; Singer, 2017), dramas alegóricos que personificavam vícios e virtudes como personagens, nos quais os conflitos tinham um sentido moral e moralizante para a audiência (Knight, 1983). Os vídeos do canal de maneira geral, e em especial os três analisados, tem sua razão de ser declarada – através de cartelas, dos títulos e da maneira como as narrativas se desenvolvem – em função das lições de moral que pretendem apresentar de forma direta (sem ambiguidades e em uma chave de moralidade simples) características intrínsecas do melodrama que Baltar (2019) associa com uma pedagogização moralizante que é tão mais eficaz por seu caráter sensorial e sensacional. A estrutura narrativa se repete praticamente em todos os exemplos visualizados e em especial nos três que foram analisados, que contam com um começo que traz um flash-forward do momento mais agudo de conflito entre vício e virtude (repetido em um momento posterior), uma escolha estrutural que sinaliza uma preocupação com a retenção de público, mas que também aponta para uma organização que privilegia o excesso e o exacerbante. Ao final, após o desenvolvimento do conflito, há sempre a restauração da virtude através da superação pela vítima das maldades do vilão, por vezes com um exemplo de justiça poética. Outro aspecto interessante a apresentação direta da lição de moral pretendida colocada seja por escrito ou verbalmente por Nascimento diretamente para a câmera, escolha estética que Singer (2017) percebe também na obra de Griffith, que frequentemente anunciava a lição moral a ser aprendida ao longo filme em um intertítulo nos momentos iniciais. Embora tenham sido identificadas poucas citações diretas a Deus nos comentários coletados, muitos apontam para virtudes ligadas a religiosidade e aos papéis de cada um na dinâmica familiar tradicional. Enquanto as telenovelas brasileiras têm se afastado levemente do maniqueísmo moral mais marcado, as micronarrativas aqui analisadas chafurdam na sinalização de vícios e virtudes, levando a cabo uma faceta de controle social da norma através dos costumes tão recorrente em determinadas comunidades religiosas de matriz neopentecostal no Brasil (Spyer, 2020), nas quais os próprios fiéis atuam como agentes de fiscalização uns dos outros, sobretudo com um peso forte na questão da sexualidade e da fuga de papéis tradicionais na célula familiar. |
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Bibliografia | BROOKS, Peter. The melodramatic imagination: Balzac, Henry James, melodrama, and the mode of excess. Yale University Press, 1995. |