ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A saída da prisão: um filme amador de Norma Bengell |
|
Autor | Patricia Furtado Mendes Machado |
|
Coautor | Thais Blank |
|
Resumo Expandido | No exato momento em que sai da prisão, a militante política Inês Etienne é flagrada por uma câmera amadora Super-8, para a qual posa e sorri no calor da emoção. Sequestrada, encarcerada, torturada barbaramente e ameaçada de morte pelos agentes do Estado brasileiro, Inês Etienne foi a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis e teve um papel fundamental no processo de resistência e denúncia dos crimes cometidos na ditadura. A trajetória de Inês Etienne representa de forma única esse momento traumático do país e goza de reconhecimento no campo político e histórico. Norma Bengell é aquela que filma Inês. Apesar do engajamento político e da longa carreira de atriz e cineasta, ela sobrevive no imaginário coletivo como vedete, símbolo sexual, um clichê sobre o qual paira apenas uma vaga lembrança do seu engajamento político. Norma também foi perseguida por um discurso moralista, sequestrada por agentes disfarçados, presa e teve que viver no exílio durante o período da ditadura. O tema central de comunicação é falar do encontro dessas mulheres pelas imagens do cinema. Em especial, interessa pensar no gesto de Norma em filmar Inês no mesmo ano em que realizaria o seu primeiro curta-metragem como diretora. Em Maria Gladys, uma atriz brasileira, Norma entrevista a atriz e traz questões sobre a presença e a invisibilidade da mulher no cinema. No filme, elas conversam e falam das censuras que sofreram por conta do moralismo da época e da militância política. O que as imagens que realiza de Inês têm em comum com esse primeiro curta-metragem dirigido por Norma Bengell? Nosso intuito é mostrar, a partir de diferentes imagens e documentos de arquivos privados e público, as semelhanças e diferenças entre essas mulheres: enquanto Inês permanecia escondida em uma casa clandestina, Norma aparecia em reportagens e capas de revistas colando-se frontalmente contra o autoritarismo. Documentos da polícia política e entrevistas, que utilizamos no cruzamento com as imagens, revelam ainda o lado mais politizado da vedete, atriz e símbolo sexual, como o sequestro, prisão pelos militares e o exílio. Sobre o período da ditadura, a personagem do filme de Norma, Maria Gladys, conta em entrevista para o site Mulheres do cinema brasileiro, concedida há cinco anos: "Sou filha do golpe de 1964…veio a censura e acabou a minha profissão, justamente quando eu estava cheia de fôlego". Construir uma espécie de mosaico de imagens e sons dessas personagens pode nos levar a uma compreensão mais profunda da participação de mulheres na resistência à ditadura militar no Brasil mas, sobretudo, do papel que as imagens exercem na construção dessa memória. |
|
Bibliografia | BENGELL, Norma. Norma Bengell. São Paulo: Versos Editora, 2014 |