ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Gremlins, um E.T. com dentes para Ronald Reagan |
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Autor | Laura Loguercio Cánepa |
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Coautor | Ana Maria Acker |
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Resumo Expandido | Em 1984, Steven Spielberg estava em busca de talentos para sua empresa Amblin Entertainment que ficara multimilionária depois do sucesso mundial do seu filme E.T. – O Extraterrestre (1982). Para expandir seus negócios e ocupar o mercado rapidamente, ele buscou diretores apontados como seus imitadores, entre eles Joe Dante, cineasta que dirigira Piranha (1978), produção da empresa New Eorld Pictures (do lendário produtor independente Roger Corman) que seguira os passos de Tubarão (Jaws, Steven Spielberg, 1975). Dante ficou encarregado do projeto Gremlins (apelidado pelo próprio diretor de “E.T. com dentes”), no mesmo ano em que a Amblin estava envolvida com longas de outros diretores como De Volta Para o Futuro (Back to the Future, Robert Zemeckis, 1985). Gremlins nos apresenta um estranho e fofo animal de estimação de origem supostamente asiática – Mogway, para os chineses; Gizmo para os americanos. Ele é uma criatura cuja existência amigável depende de um delicado equilíbrio do ambiente. Aos responsáveis por cuidar dele – Billy, filho único da família Peltzer, que enfrenta a crise econômica na depauperada cidadezinha de Kingston Falls –, cabe guardar e proteger, com sabedoria e autocontrole, essa espécie de divindade “yin e yang” que traz consigo a semente da destruição na forma de clones que podem se multiplicar infinitamente (os temidos monstrinhos gremlins). Diante da incapacidade dos adultos e das autoridades para lidar com o problema provocado em plena noite de Natal, caberá à Billy e à sua namorada salvarem a cidade (e o mundo), pelo menos desta vez. As criaturas, concebidas para o filme pelo artista de efeitos especiais Chris Walas (o mesmo de Aliens) e pelo roteirista Chris Columbus, transformaram Gremlins uma franquia de sucesso que legou ao imaginário do cinema de fantasia uma das mais irônicas e tocantes representações da passagem da adolescência à vida adulta – mas também uma crítica à sociedade dos EUA em plena Era Reagan, num período marcado pela desigualdade, pela xenofobia e pelos constantes ataques aos recursos naturais cada vez mais escassos no planeta. Gremlins pertence a uma numerosa leva de filmes estadunidenses dos anos 1980 caracterizada pelo olhar nostálgico ao conservadorismo político e comportamental dos anos 1950, o que caracteriza um gênero que o pesquisador escocês Andrew McFadzean (2019) chamou de ‘Suburban Fantastic Cinema’, traduzido para o português por Pedro Lauria (2022) como ‘suburbanismo fantástico’. Nesses filmes, de maneira geral, adolescentes do sexo masculino que vivem nos subúrbios são chamados a combater forças perturbadoras que assumem a forma de figuras populares do repertório ficcional fantástico. Os filmes do suburbanismo fantástico enfatizam valores conservadores como a defesa da propriedade privada, da família nuclear, das comunidades etnicamente fechadas e do escopo limitado e pouco intelectualizado de contato com o mundo exterior. Ao tempo, no entanto, exploram tensões e ansiedades subjacentes à vida suburbana, e é nesse ponto que Gremlins ganha destaque, pois, se as características conservadoras podem ser identificadas no combate ao desequilíbrio social provocado pelos gremlins, o filme também parece encontrar um caminho diferente de contemporâneos, e isso ocorre em parte pelo modo como lida com elementos do bio-horror (Morgan, 2002; HALLBERSTAN, 1995), adaptando-o a uma visão crítica do ideal de subúrbio (LESTER, 2002). Nesse sentido, como pretendemos demonstrar em nossa apresentação, Gremlis pode ser interpretado como uma sátira da relação da cultura estadunidense (e 'Ocidental') com a ciência, a economia e biopolítica. O filme satiriza a cultura de consumo excessivo e aponta as limitações do controle econômico e científico sobre os fenômenos biológicos e sociais, apresentando desafios que refletem os limites do avanço científico e do caráter destrutivo do capitalismo tardio. |
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Bibliografia | HALBERSTAM, Judith. Skin Shows Gothic Horror and the Technology of Monsters. Durham: Duke University Press, 1995. |