ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Festival Panafricain d'Alger, de W. Klein, e a apoteose do som direto |
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Autor | Sérgio Puccini Soares |
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Resumo Expandido | A comunicação pretende apresentar uma análise do documentário Festival Panafricain d'Alger, dirigido pelo cineasta William Klein em 1969, centrando a sua atenção no tratamento sonoro trabalhado no terço final do filme e que estamos chamando de apoteótico. Essa ideia é resultado de uma construção discursiva fortemente apoiada no papel da captação do som direto em situações de filmagens não controladas e que possui especial simbolismo se pensarmos no contexto histórico da produção do filme em estreita relação com a evolução do estilo do documentário direto. O documentário Festival Panafricain d'Alger se encaixa dentro de um contexto que alinha diretamente as técnicas do direto às demandas do filme militante e das lutas sociais, neste caso os movimentos de libertação dos países africanos nos anos 1960. O documentário capta um momento de grande euforia relacionada às conquistas das lutas anticoloniais, especialmente na Argélia que passa a ser espécie de palco principal para manifestações revolucionárias da época (HADOUCHI, 2011, p.117). Além disso, nasce também das experiências de intercâmbio e colaboração que buscavam impulsionar a formação de novos cineastas em países do chamado terceiro mundo. Como parte dos esforços de intercâmbio entre a equipe de técnicos e cineastas, a produção do filme irá contar com um expressivo número de técnicos de imagem e de som tais como Michel Brault, Pierre Lhomme, Yann Le Masson, Bruno Muel, Ahmed Lallem, Antoine Bonfanti, Sarah Maldoror, Slimane Riad, Michel Desrois, Harald Maury, Mohamed Bouamri entre outros. Apesar do festival ter ocorrido entre os dias 21 de julho e 1 de agosto, a estrutura do documentário condensa os eventos naquilo que parece ser o transcorrer de um único dia. O filme é dividido em capítulos que respeitam uma ordem cronológica que vai da abertura do evento, os preparativos dos espetáculos de dança, teatro e música, os discursos e debates dos simpósios, até o capítulo final que se inicia com a cartela “A noite”. Nesta comunicação, iremos concentrar a análise na sequência “A noite” que apresenta um sumário de performances ocorridas em diversos locais da cidade de Argel entre os horários das 21:45h às 02:15h. O que se observa em toda a sequencia é a quase ausência da palavra em troca de uma massa sonora formada por sons percussivos de tambores, guizos, passos, palmas, cantos, gritos e ruídos que nos envolve em um crescendo rumo ao clímax final, a apresentação de Archie Sheep, ícone do chamado free jazz, em total improviso com uma orquestra de músicos argelinos. |
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Bibliografia | GRAFF, Séverine. Le cinéma-vérité, films et controverses. Rennes: PUR, 2014. |