ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | De Symbiosis e Cine Planta a Botannica Tirannica: Natureza e cinema |
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Autor | Wilson Oliveira da Silva Filho |
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Resumo Expandido | O cinema possui direta relação com o meio ambiente. Durante mais de um século, o cinema foi uma atividade fotoquímica que lidava com produtos industriais abrasivos e perigosos. Da querela do nitrato de prata aos desafios do cinema digital que, com chips de silício e gastos energéticos para manter serviços de exibição em funcionamento, também se relacionam com o meio, tentamos aqui pensar a necessidade de uma compreensão ecológica das mídias (BRAGA, LEVINSON, STRATE, 2020), em nossa leitura, uma ecologia midiática do cinema. A associação entre cinema expandido e meio ambiente se faz também e mais e mais necessária nos estudos da arte cinematográfica experimental. Entre alguns experimentos sustentáveis para o cinema no campo de exibição como o Cinemão, de Cid Cesar Augusto, os principais estudos sobre cinema e ambiente parecem vir da cena dos cinemas expandidos – no plural como estamos frisando em nosso atual projeto de pesquisa no PPGCINE/UFF –, em especial nos trabalhos de live cinema ou nas obras a partir do fenômeno da Inteligência artificial (IA), que estendem o cinema para dimensões inexploradas. Experimental, por excelência, o live cinema (MAKELA, 2007) lida com a dimensão material, estrutural e com um claro entendimento do cinema como uma mídia, apresentado em tempo real e co-criado com o público. Os Vj’s e demais performers desse liveness contemporâneo prolongam o cinema experimental para novos terrenos. Finalmente com a IA, algumas obras problematizam não só a natureza das imagens, mas as imagens da natureza. Na obra de Roberta Carvalho “Symbiosis” (2011), a copa das árvores torna-se superfície para projeções mapeadas. O mapping, esta técnica de performance audiovisual em tempo real na qual softwares leem as superfícies como tela e projetores digitais, geralmente de alta luminosidade permitem o cinema ir além da sala de exibição, estendendo o cinema para espaços outros. Cinema experimental heterotópico. O trabalho de Roberta Carvalho faz as árvores se tornarem tela para desenhos e projeção de rostos de povos originários, relacionando o rosto, também uma paisagem, a uma encantaria tecnológica (HERKENHOFF, 2021). A obra de Paola Barreto, Marlus Araújo e Guto Nóbrega, “Cine Planta” (2012), se relaciona a uma espécie de “xamanismo tecnológico” que ganha força em parte da cena das live images. Trata-se de um experimento que associa um dragoeiro a uma interface de edição de imagens em tempo real, criando um organismo híbrido” (V MOSTRA Live cinema, 2012). Captação e exibição em rede que se retroalimentam desse sistema vivo do vegetal. A integração da planta aos circuitos eletrônicos e digitais, recoloca, para os artistas, “a questão dos limites entre vivos e não vivos” (Id., Ibid). Mais de 10 anos depois dessas obras live, a exposição “Botannica Tirannica” (2022), de Gisele Beiguelman nos fornece, através de inteligência artificial, uma ótima crítica ao preconceito no próprio nome de certas espécies do mundo vegetal. Através de imagens criada com IA, Beiguelman problematiza através de cinco vídeos na parte da mostra chamada “Flora rebelis” um cinema digitalmente expandido (SHAW, 2005) que amplia mais ainda as relações entre audiovisual e natureza, expandido as imagens da inteligência artificial através de fusões e anamorfoses como metáforas da visão para lembrarmos Stan Brakhage. Abrir caminho ao pensamento complexo, para ampliar a noção de sistema e de organização da relação entre o sistema terra e o antropoceno (ELI, 2019) parece ser o interesse desses trabalhos. Parece também ser uma possibilidade para compreender como obras tão diferentes dialogam e amplificam ideias do cinema expandido. Se Youngblood pensava um cinema cósmico como elemento decisivo para a expansão do cinema, hoje em dia esse cosmocinema não é mais somente o espaço e a atmosfera dos filmes de Jordan Belson, mas as superfícies e naturezas que nos cercam mais abaixo e se articulam com outras cosmovisões. |
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Bibliografia | BARRETO, P. Do cine vivo ao cine fantasma. Anais do 22º Encontro Nacional da ANPAP. Belém, 2013. |