ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Do cinema argentino ao brasileiro, estradas para o contemporâneo |
|
Autor | Claire Allouche |
|
Resumo Expandido | Na historiografia recente dos cinemas argentino e brasileiro, quando poderíamos dizer que saímos, respectivamente, do Nuevo Cine Argentino (NCA) e da Retomada? Em outras palavras, quando se percebe o início de um novo período de criação, um período que poderíamos designar como “contemporâneo”? Do lado brasileiro, múltiplas expressões surgiram para tentar dar conta de filmes com um modelo de produção e uma estética que se afastavam da Retomada: novíssimo cinema brasileiro (Ikeda), cinema de garagem (Ikeda, Lima), cinema pós-industrial (Migliorin), e em menor medida, cinema de brodagem (Mansur), com vários filmes de referência. Do lado argentino, pelo contrario, predominam ou a incapacidade de declarar a morte do NCA (Prividera) ou a incerteza da expressão "depois" (Bernini). Pensamos que a abordagem comparatista, ousando nesse caso “comparar o incomparável” (segundo a proposta metodológica do antropólogo Marcel Detienne) nos ajuda a pensar a especificidade do cinema contemporâneo independente de cada país. Como pensar esse período cinematográfico dos anos 2010 não só como um momento geracional, seguindo um contexto histórico compartilhado, mas também como um espaço de experimentações formais e processuais particulares? Neste sentido, que ponto de partida considerar para abraçar um horizonte de possibilidades em vez de um catálogo formatado? Pensamos que a abordagem comparatista é ainda mais fértil quando abraçamos a múltiplas escalas que compõem um filme. Por esse motivo, nessa apresentação, propomos nos deixar guiar por dois filmes que, cada um a sua maneira, instiga um ponto de virada na história do cinema da Argentina e do Brasil. Parece nos que esses dois filmes dialogam conscientemente com tradições do século XX de cada país e tomam em consideração novas ferramentas audiovisuais, bem como uma flexibilização do modelo de produção ao longo do tempo. São duas ficções elaboradas a partir da experiência do automóvel em um território geográfico significativo para o imaginário nacional, trabalhando no limiar entre era analógica e idade digital: do lado argentino, Historias Extraordinarias (2008), de Mariano Llinás, percorre os pampas da província de Buenos Aires durante quatro horas de narrativas inesgotáveis; do lado brasileiro, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (2009), de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, compõe uma cartografia nordestina além das fronteiras entre os Estados, assumindo um ponto de vista subjetivo. Acreditamos que esses dois filmes encarnam um projeto vivaz do cinema contemporâneo e se iluminam mutuamente. A proposta estética de ambos é inerente a um modelo de produção, e o presente de suas narrativas dialoga com um espectro de histórias possíveis e descartadas, escancarando o horizonte de uma “obra aberta” no sentido de Umberto Eco. A esse respeito, tentaremos abraçar as inquietudes historiográficas contemporâneas dos dois países prestando atenção particular à análise de zonas de contato entre os dois filmes, mais especificamente na forma como ressignificam os pampas e o sertão no presente, a partir de um lugar próprio, e na forma como questionam, através da ficção, a "imagibilidade" dos vestígios do século passado. |
|
Bibliografia | • Claire Allouche, « Depuis l'Argentine et le Brésil. Reflets cinématographiques du présent », Cinémas d’Amérique Latine n°31, 2023, pp. 160-165. |