ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A representação feminina no cinema noir norte-americano |
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Autor | Juliana Joaquim Gomes |
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Resumo Expandido | A expressão film noir foi cunhada por críticos franceses após Segunda Guerra Mundial para “designar um grupo de filmes criminais americanos, produzidos a partir dos anos 40, com certas particularidades temáticas e visuais que os distinguiam daqueles feitos antes da guerra” (MATTOS, 2001, p.11). Pode-se dizer que o cinema noir surgiu a partir da literatura policial hard-boiled: histórias detetivescas de autores majoritariamente norte-americanos que foram publicadas nas pulp magazines, revistas baratas que alcançaram popularidade entre 1920 e 1945. Muitos filmes noirs possuem elementos presentes nesse tipo de literatura: tramas complexas, uso de flashbacks e narração em primeira pessoa. A singularidade estética hoje facilmente reconhecível do cinema noir se deve à influência de movimentos como o Expressionismo alemão, com filmes sombrios e pessimistas, que usavam cenários extravagantes, perspectivas deformantes, fortes contrastes de luz e sombras, e uma representação da realidade que expressava os conflitos interiores dos personagens, através da abstração, deformação, estilização e simbolismo. A conjuntura socioeconômica pela qual passavam os Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra – recessão econômica, inflação e desemprego - criou o momento propício para o surgimento do cinema noir, principalmente pela mudança na organização tradicional familiar, traduzida pelos homens que voltavam do front e a mão-de-obra feminina treinada para substituí-los durante o conflito, que havia deixado de se devotar exclusivamente ao lar e à família. Assim, com tom deprimente e pessimista, a temática mais comum no cinema noir era a de um protagonista envolvido em um crime pelas artimanhas de uma mulher fatal, a quem o Destino o apresentou, tornando-o incapaz de controlar seu infortúnio. O cenário principal é a grande cidade americana de ruas e becos pouco iluminados, e uma rica iconografia que ajuda a envolver o espectador no clima noir. Este foi um dos períodos da História do Cinema onde as mulheres foram apresentadas de maneira nunca vista antes: mulheres ambíguas, carregadas de fatalismo e sedução, eternizadas pelas estrelas Rita Hayworth e Barbara Stanwyck, entre outras. A publicação da coleção editada por Ann Kaplan, “Women in film noir”, em 1978, foi o ponto de partida para estabelecer o noir como um espaço para a pesquisa acadêmica feminista, destacando a duplicidade e a ambivalência da representação da mulher no cinema de Hollywood. Assim, a emblemática femme fatale (mulher fatal) e seu contraponto, a nurturing woman (a “boazinha”, cuidadora, redentora) passaram a ser tema de diversos artigos e livros nos EUA. Se por um lado, estes filmes conseguiram subverter valores da época, por outro, reforçaram os padrões patriarcais da sociedade norte-americana, segundo os quais as personagens femininas deviam se submeter aos homens (nurturing women) ou ser punidas no final (femmes fatales). Com o intuito de reavaliar o problema da representação e da participação feminina nesse cinema, o trabalho busca dar visibilidade à primeira mulher a dirigir um filme noir, a inglesa Ida Lupino (1918-1995). Ida Lupino começou sua carreira como atriz, mas foi como autora e cineasta pioneira, com interesse permanente em retratar as dificuldades das mulheres americanas no pós-guerra, que ela fundiu elementos clássicos do filme noir com crítica social, criando um estilo de direção único. Ao trazer para o cenário atual sua relevância na História do Cinema, busca-se resgatar a participação de uma mulher que, na Hollywood do pós-guerra, dominada por homens e sujeita ao restritivo Código Hays, obteve pouco apoio, mas seguiu escrevendo e dirigindo filmes com temas polêmicos, que expunham o lado sombrio da sociedade americana. |
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Bibliografia | BORDE, Raymonde, CHAUMETON, Etienne. Panorama du film noir américain. Paris: Flammarion, 1955. |