ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O passado disputado nas produções audiovisuais da Brasil Paralelo |
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Autor | Karina Oliveira Brito |
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Resumo Expandido | A ascensão da extrema-direita como um movimento global está relacionada a uma série de fatores (MUDDE, 2019), dentre os quais as crises políticas e econômicas neoliberais. Um dos desdobramentos da crise de 2008 foi a ascensão do capitalismo de plataforma (SRNICEK, 2018). Esse processo de plataformização da web (HELMOND, 2019) estabeleceu novos paradigmas não apenas no uso das tecnologias como também de estratégias de negócios e tendências sociais. Se por um lado a plataformização alterou as formas de produção e divulgação de informações e conhecimentos (particularmente em formatos audiovisuais), por outro fez emergir novas configurações de poderes tecnopolíticos (ZUBOFF,2018), estabelecendo diversos desafios à democracia e à ciência. Dentro da variada gama de plataformas da Web está o YouTube. Essa plataforma possibilita a produção e compartilhamento de vídeos com os mais variados conteúdos. A partir destes conteúdos, um conjunto de estudos têm se dedicado a compreender os filtros de bolhas (PARISER, 2012) oportunizados pela arquitetura plataformizada da web. Utilizando-se dessa estrutura, os movimentos de extrema-direita têm construído a sua própria bolha, criando realidades paralelas e dando vazão a discursos conspiracionistas e negacionistas . A produção e divulgação de materiais audiovisuais sobre temáticas históricas com viés negacionista (NAQUET, 1988; TRAVERSO, 2012) da empresa Brasil Paralelo no YouTube é o foco desta proposta. Buscaremos compreender como a extrema direita opera através da adaptação da teoria marxista da hegemonia de Gramsci (STROBL, 2022) e do uso político da história através da “alt history” (VALÊNCIA-GARCIA, 2020), lançando mão, para isso, de um arsenal específico de técnicas e linguagens audiovisuais que iremos investigar. Para Jesi (JESI, 2021, p.17) a “máquina mitológica” da direita alicerça-se no medo do diferente, e um de seus elementos mais característicos é a repulsa pela história disfarçada pela adoração de um suposto passado glorioso. Discutiremos o processo de relativização e banalização de questões históricas como ferramentas da guerra cultural (HUNTER, 1992) da extrema direita. Identificaremos como, através do uso político do passado, a lógica dicotômica e maniqueísta da extrema direita passa a permear todos os âmbitos sociais, legitimando a luta do “bem” contra o “mal”, engendrando um mundo imaginário alternativo e estimulando cada vez mais o extremismo. |
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Bibliografia | HELMOND, Anne. A plataforma da Web. In: OMENA, Janna Joceli (Org.). Métodos digitais: Teoria, prática, crítica. Lisboa: ICNOVA, 2019. |