ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A Cibercinefilia e o fim da Revista SET |
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Autor | Tiago Coutinho de Oliveira |
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Resumo Expandido | Com o surgimento da internet, houve uma profunda reconfiguração dos fenômenos sociais e midiáticos então existentes ao redor do mundo. No que tange à relação do indivíduo com o cinema e com todas as possibilidades comunicacionais que ele proporciona não foi diferente. A cinefilia clássica instituída por intelectuais franceses nos anos 50, consolidada por publicações inspiradas na Cahiers du Cinéma e definida por Antoine De Baecque como a “vida que organizamos em torno dos filmes” (DE BAECQUE, 2011 p. 31), precisou se adaptar aos novos atributos virtuais e às ferramentas interativas do ciberespaço. O farto material relacionado ao cinema disponível na internet, além do surgimento de novos agrupamentos virtuais, como os cineclubes, que inseriram seus membros no campo do debate fílmico, outorgando-lhes legitimidade para expressarem suas impressões, inseriram uma nova camada na relação estabelecida entre crítico e espectador: o espaço de interação entre este último a crítica publicada. No caso do leitor que sentia o afã de aprofundar seus conhecimentos cinematográficos, a internet surgiu como uma ferramenta que poderia atender o descontentamento de um papel meramente passivo no vértice de conversação crítico-artística, saciando seu anseio por interações bilaterais. Com esse cenário, novos perfis se consolidaram ao longo dos anos, substituindo antigos modelos. Com a “emancipação do espectador” (RANCIERE, 2014, p. 17), os internautas passaram a ter a possibilidade de criar blogs e impulsioná-los segundo seus próprios critérios. Nascia a Cibercinefilia! A cinefilia pós-moderna, composta por sujeitos que experimentavam o cinema através das inúmeras possibilidades proporcionadas pela internet. “Uma nova configuração da paixão pelo cinema implementada e mediada pelas estruturas cibernéticas, pela interação e vivência no ambiente virtual” (JULLIER, 2012). No Brasil, essa transição trouxe mudanças significativas. Tomemos o exemplo da Revista SET, por décadas a publicação cinematográfica de maior referência no país. No seu auge, durante a fase pré-internet, sua tiragem mensal chegava a 50 mil exemplares. A partir do final dos anos 90, com o surgimento de blogs direcionados à crítica de cinema, suspeitamos que ela tenha iniciado um processo de declínio progressivo que culminou com sua extinção, em novembro de 2010. Supomos que a consolidação das novas mídias provocou mudanças no estilo discursivo, estético e estrutural da revista, de modo a adequá-la ao gosto dos cibercinéfilos. Porém, não apenas a relação destes com os instrumentos midiáticos se redefiniu: as conexões sociais implementadas pela web promoveram um novo modelo de interação, mais afeito à horizontalidade. Algo que não podia ser explorado em toda sua potencialidade por publicações unicamente impressas, como era o caso da Revista SET. À medida em que a cinefilia passava a coexistir com a cibercinefilia, e, posteriormente, com a “cinefilia 2.0” - “termo criado por Tim O´Reilly para diferenciar a primeira fase do ciberespaço, onde as páginas da internet eram mais estáticas, para a atual, onde diversas funcionalidades foram adicionadas aos websites” (LEMOS, LÉVY, 2010, p. 38) - as mídias tradicionais que não se reinventavam digitalmente se enfraqueciam perante o mercado de consumo. Suspeitamos que as vendas decaiam à medida em que materiais gratuitos eram disponibilizados na internet e as possibilidades de interação dadas ao espectador iam se expandindo no ciberespaço. No presente estudo, procuramos entender como a internet e a revista SET podem ter se influenciado mutuamente ao longo dos anos. Através de revisão bibliográfica e pesquisa documental, traremos à baila nossa hipótese de que as imposições dos atributos multimidiáticos da cibercinefilia, e, posteriormente, da cinefilia 2.0, afetaram formatos tradicionais de publicações que a eles não se curvaram. Dentre elas, a revista SET, ainda hoje cultuada por fãs saudosos e por acadêmicos em busca de respostas. |
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Bibliografia | CARVALHO, Rafael Oliveira. Contornando crises e reafirmando a autoridade na WEB: os desafios da crítica de cinema online no Brasil. Tese apresentada junto à Universidade Federal da Bahia, 2017. |