ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | A opacidade mascarada em O Pássaro das Plumas de Cristal |
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Autor | Wellington Gilmar Sari |
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Resumo Expandido | Os livros de capa amarela e papel barato, impressos pela editora Mondadori, de Milão, batizam um filão cinematográfico popular na Itália, entre os anos 60 e 70. Trata-se do giallo (amarelo). Embora os filmes não sejam adaptações diretas dos livros, a relação entre ambos vai além da cor. A cor vermelha, no caso. Boa parte dos gialli (plural de giallo) editados pela Mondadori são romances detetivescos de autoras e autores como Agatha Christie, Ellery Queen e John Dickson Carr. Armas das mais diversas formas e tamanhos geraram cadáveres em bibliotecas, cabines de trem, cabines de navio, pátios de casas de praia etc. Diretores como Dario Argento, Lucio Fulci e Sergio Martino filmaram assassinatos em galerias de arte, apartamentos repletos de obras de arte, casas de campo, bem como outros espaços fechados. Vários dos romances detetivescos editados pela Mondadori se enquadram naquilo que se denomina loked room mysteries. Uma das peças que configura um loked room mysterie é a presença de “um crime em um quarto hermeticamente fechado” (PENZLER, 2022, p. 1). Ainda segundo Penzler, o gênero representa a “manifestação definitiva da ficção detetivesca cerebral” (p. 2), cuja mecânica de execução se equipara aos truques de mágica. Em um dos célebres loked room mysteries dos anos 30, The hollow man, o autor John Dickson Carr (que teve várias obras editadas pela Mondadori) interrompe o fluxo narrativo. À maneira machadiana, o detetive Gideon Fell anuncia para os personagens que fará ali mesmo uma palestra sobre loked room mysteries e que o leitor, caso se aborreça, que fique a vontade para pular o capítulo. Trata-se de um pungente gesto autoconsciente, que se estende por cerca de 20 páginas, em que o detetive explica os mecanismos que constroem os loked room mysteries. O elemento de opacidade surge sem aviso, como um truque de mágica, por cima de uma narrativa até então transparente. Tal qual uma máscara, a máscara análoga ao próprio truque utilizado pelo assassino do livro (que, por sinal, é também a vítima) para se fantasiar de outra pessoa e, com a ajuda de um espelho, promover a ilusão de que está dentro de um quarto, quando, na verdade, está do lado fora. Sem muito esforço, é possível compreender como o quarto fechado é ele mesmo analogia para a estrutura deste tipo de narrativa detetivesca: o escritor esconde o segredo a sete chaves, fornecendo ao leitor apenas vislumbres através dos buracos de fechadura. É só ao fim da narrativa que a porta é escancarada e o segredo inteiramente revelado. No exemplo de Carr, a revelação se dá não só no plano narrativo (quem matou, e como), mas, também, no campo estrutural (eis como eu, Carr, construo os truques que formam os loked room mysteries). Ainda no campo das possibilidades análogas, temos trabalhado, no cinema, a noção de Opacidade mascarada, para designar justamente propostas que mascarem elementos de opacidade em “corpos” transparentes (e vice versa). Neste sentido, a comunicação pretende investigar como o cineasta italiano Dario Argento, um dos expoentes do filão cinematográfico giallo, repensa os mecanismos dos loked room mysteries a partir das propriedades imagéticas e sonoras em O pássaro das plumas de cristal (1970). No longa-metragem, uma tentativa de assassinato acontece em uma galeria de arte que, apesar de hermeticamente selada, tem a fachada feita de vidro, em formato retangular. Através do vidro, uma testemunha ocular presencia o acontecimento. Mais especificamente, a intenção da comunicação é sondar o set up do crime na galeria de arte, cuja fachada lembra uma tela de cinema transparente. Como tal cena, mais do que servir de pico dramatúrgico, é ela mesma uma reflexão e uma palestra, por parte do cineasta, ao modo de Gideon Fell, sobre as propriedades da imagem cinematográfica? De que maneira, ao explicar o truque, o filme “[…] quebra o brinquedo e rasga o ventre da máquina”, para recuperar Metz (2008, p. 405)? |
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Bibliografia | CARR, John Dickson. The hollow man. London: Orion Books, 2013 |