ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Magia e Mágica: O Cineasta no Limiar entre o Ocultismo e o Ilusionismo |
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Autor | Giordano Dexheimer Gil |
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Resumo Expandido | O presente trabalho é parte de uma pesquisa de maior fôlego que, ao optar pensar o cinema como magia e o cineasta como mago, entende a História e a Teoria do Cinema como um Grimório, ou seja, uma coletânea de feitiços. O cineasta Kenneth Anger relaciona o processo de realizar um filme com o ato de conjurar um feitiço. Enquanto Edgar Morin questiona de que maná o cinematógrafo foi possuído para tornar-se cinema, o quadrinista e ocultista Alan Moore define a magia como a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens para operar mudanças de consciência. A alquimia, campo da magia que alicerça-se na ideia da transubstanciação material, segundo o crítico de arte Nicolas Bourriaud, foi uma prática precursora do espírito científico moderno, percebida em indivíduos que operavam por repetição de procedimentos, na expectativa de um evento transcendental. Bourriaud postula que o herdeiro de figuras como Nicolas Flamel ou Robert Fludd seria mais o artista moderno do que o cientista, um tipo de figura que já encontra seus antecedentes em homens do princípio do que poderíamos entender como modernidade, como Leonardo, Dürer ou Bosch. Em seguida, Bourriaud dá sequência à sua formulação aproximando a figura do alquimista da figura do dândi, na qual Baudelaire descobriria a síntese da modernidade enquanto elogio da subjetividade e da artificialidade da experiência humana, a invocação de uma “mitologia pessoal” na qual investe-se tempo e ciência (p. 47). É na dialética da alquimia e do dandismo que Bourriaud enxerga a configuração do artista moderno, e me surpreende que nessa feliz proposição, o autor não tenha se aproximado também da figura do Mágico de Palco, do Ilusionista, que parece ser a mais perfeita síntese desses dois campos. E é diretamente dessa síntese que emerge a figura do cineasta, através de George Mélies. O historiador da arte Philippe Alain-Michaud entende que Méliès desviou a câmera de sua vocação documentaria para torná-la o que chama de instrumento demiúrgico. Diz ele que "Se Méliès não “inventou” o cinema, porém o utilizou para prolongar uma história mais antiga, inventou, em contrapartida, a figura do cineasta [...] parece ter-se representado dessa maneira em seus filmes, para assinar suas imagens – e talvez também, num plano mais profundo, para sentir os efeitos do cinema no próprio corpo. Evoluindo diante de cenários de perspectivas aberrantes, em meio a espectros e aparições, curandeiro místico, capaz de decompor e reconstituir os corpos, de fazer nascerem visões e de dissipá-las, Méliès em seus filmes-autorretratos, representa-se como feiticeiro e faz do cinema uma força mágica". (MICHAUD, p. 160) O Mágico, ou Mago, é também o arcano de número I na praticada cartomancia, apresentando-se como amálgama entre o feiticeiro e o trambiqueiro. Em alguns baralhos, surge como encarnação do Deus Hermes, entidade mercurial associada à comunicação, à linguagem e ao arquétipo do trickster, e cumpre a função de conduíte entre os mundos espirituais e físico, virtuais e reais, como é o próprio cineasta. Invoquemos aqui outro cineasta, e mago autodeclarado, que vê no Tarot uma prática oracular e instrumento poético, o chileno Alejandro Jodorowsky, que afirma que "Para o mago, tudo é possível: ele tem sobre a sua mesa uma série de elementos que pode empregar como quiser e uma bolsa que podemos imaginar inesgotável como uma cornucópia de abundância (...) O mago é um andrógino que trabalha a luz e a sombra, fazendo malabarismo, do inconsciente ao supra consciente". Essa pesquisa pretende estabelecer uma genealogia dessa intersecção entre ocultismo e tecnologia óptica, que atravessa a história do cinema em figuras como os já citados Méliès e Jodorowsky, e em outros como David Lynch, Kenneth Anger, Maya Deren, F. W. Murnau, Harry Everett Smith, entre outros, e suas técnicas e obras como partes de um grimório de feitiços em constante transmutação. |
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Bibliografia | ANDRIOPOULOS, Stefan. Aparições Espectrais: O Idealismo Alemão, o Romance Gótico e a Mídia Óptica. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2014. |