ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | Fantasia, ilusão e sonho: cinemas atmosféricos no Rio de Janeiro |
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Autor | João Luiz Vieira |
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Resumo Expandido | Entre as décadas de 1920 e 1940, período que coincide com a popularização dos grandes palácios de cinema (movie palaces) nos EUA, um estilo arquitetônico em especial trouxe inovação e, de certa forma, ampliou o que hoje chamamos de "arquitetura da fantasia" (David Naylor, 1981) ou "espaços do sonho" (Vieira, 1983): os cinemas atmosféricos. Assim definidos, esses cinemas chamaram a atenção por introduzirem o conceito denominado atmosférico, que permitiu o acesso do público a uma experiência imersiva inédita ao ampliar a sensação radical de rompimento espacial com a realidade exterior. Através de uma recriação arquitetônica que simulava ambientações exóticas e distantes do cotidiano da quase totalidade do público massivo que na primeira metade do século passado consumia cinema antes da chegada da televisão, os cinemas atmosféricos carregavam a plateia, espacial e temporalmente, para passados distantes—a Mesopotâmia, a Renascença italiana, a França de Luis XIV, o Egito dos faraós, jardins, pátios e tendas árabes, o esplendor da cultura mourisca do Alhambra, entre tantos outros possíveis cenários. A sala de cinema era decorada, em suas paredes laterais e ao fundo, com uma cenografia construída em relevo, com esculturas, pórticos, janelas, capitéis, colunas, plantas artificiais, fontes e demais objetos e luminárias que simulavam tais ambientes. Tudo isso envolvido por um teto pintado de azul escuro, pontilhado por pequenas estrelas elétricas que piscavam de forma assincrônica. E para aumentar ainda mais a impressão de se estar assistindo a um filme à noite em céu aberto, um aparelho oculto na cabine de projeção, chamado Brenógrafo, projetava nuvens suaves que se movimentavam infinitamente nesse bonito e protegido céu noturno, como uma lanterna mágica. A ilusão de céu aberto era ampliada pelas paredes decoradas que circundavam o auditório e criavam a sensação de se estar vivendo um cenário real, com vinhedos que desciam por muros falsos, algumas vezes encimados por pássaros empalhados, ou também em pleno vôo. O criador desse conceito arquitetônico imersivo foi o austríaco John Eberson (1875-1954), imigrante que chegou aos EUA em 1901 e que, de mais de 500 projetos para salas de cinema estadunidenses (e também de outros países, como o México, Austrália, Venezuela e França), cerca de 100 foram atmosféricos. O primeiro deles, datado de 1923, foi o Cine Majestic, Houston, Texas. Esses cinemas materializavam exatamente o que os produtores e os estúdios da época de ouro de Hollywood almejavam criar para suas plateias, ou seja, um invólucro perfeito para o consumo em massa da ilusão prometida pelo cinema clássico narrativo hegemônico. Mas o que isso, pergunto, tem a ver com o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro? Em nossas pesquisas, descobrimos até agora pelo menos dois cinemas que podem ser classificados como atmosféricos: o Cine Ipanema (1934) e o tardio Cine Mauá (1952), no subúrbio de Ramos, com suas estrelinhas piscantes entre nuvens de gesso fixas no teto-céu azul. A apresentação na SOCINE detalhará suas histórias através de uma pesquisa em andamento em documentação correlata, uma vez que as duas salas foram extintas. O Ipanema foi demolido no final da década de 1960 e o Mauá em 1981, transformado em Central de Penhores da Caixa Econômica. Esta pesquisa amplia temas, questões e abordagens teórico-arqueológicas resultantes do Seminário Temático Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil e está sendo desenvolvida a partir de documentação correlata, com ênfase em matérias jornalísticas, depoimentos, arquivos cariocas (Biblioteca Nacional/Hemeroteca, Cinemateca do MAM, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Associação Comercial do Rio de Janeiro, entre outros), e, em especial, no caso do Cine Mauá, no fabuloso acervo documental do fundo Família Ferrez, depositado no Arquivo Nacional. Com isso, pretendemos acrescentar mais um capítulo às nossas sempre abertas e infinitas histórias de cinemas |
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Bibliografia | FERRAZ, Talitha. Espectação cinematográfica no subúrbio carioca da Leopoldina: dos cinemas de estação às experiências contemporâneas de exibição. RJ: UFRJ, tese de doutorado, 2004. |