ISBN: 978-65-86495-06-5
Título | O cinema tardio: cinefilia, modelos tecnológicos e neoliberalismo |
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Autor | JOSE CLAUDIO SIQUEIRA CASTANHEIRA |
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Resumo Expandido | Antoine de Baecque (2010) define a cinefilia como um fenômeno cultural construído em torno do cinema, suas práticas, técnicas e atitudes historicamente contextualizadas. Publicações como Cahiers du Cinéma funcionaram como uma espécie de legitimação do cinema, promovendo, por um lado, a distinção entre assistir e fazer filmes de outras formas de entretenimento e, por outro, uma aproximação com campos mais legítimos de criação artística. A cinefilia, considerada, por muitos de seus praticantes, uma forma de “aprender a ver”, manteve uma postura crítica em relação às manifestações mais populares da indústria cultural, tidas como “vulgares”. Devido a esse complexo processo de constituição de uma práxis fílmica específica, o pensamento cinematográfico assumiu uma orientação dúbia em relação ao papel da técnica como elemento determinante do objeto fílmico. Parte dessa dubiedade vem da disputa discursiva entre o campo das artes, com argumentos que podem ser considerados um tanto elitistas e autocentrados, e o campo da indústria com o desenvolvimento de rígidos protocolos de padronização e mercantilização dos bens culturais. A porosidade e a volatilidade dos argumentos em torno de questões técnicas podem ser percebidas em muitos autores da teoria clássica do cinema por meio de perspectivas conflitantes que muitas vezes não chegam a um consenso sobre a própria natureza do filme. Por sua vez, o discurso tecnocientífico definiu, ao longo do tempo, uma forma autossuficiente de pensar as tecnologias a partir de parâmetros propostos pelas próprias tecnologias. Dessa forma, as tecnologias são consideradas ferramentas para um fim predeterminado e vistas como elementos incontornáveis dentro do modelo de produção do capitalismo tardio. A criação cinematográfica e a autoria ainda são conceitos norteadores que suscitam debates e permeiam grande parte da discussão acadêmica ou das muitas ações promocionais em nível mais superficial e comercial da indústria audiovisual. No entanto, os possíveis conflitos entre tecnologias e criação artística são resquícios de uma ideia romantizada a respeito de ambas categorias que não é mais a realidade dos estúdios e sets de filmagem. A agenda neoliberal promoveu profundas mudanças na cadeia produtiva mundial e, consequentemente, redesenhou a experiência do filme (e, junto com ela, a noção de espectatorialidade) pautando-se em objetivos bem definidos como eficiência, previsibilidade, racionalização e datificação tanto de conteúdos quanto das ações do espectador, além da oferta vitualmente ilimitada de títulos. Esta proposta traz algumas reflexões iniciais sobre os novos modelos de produção e circulação de produtos audiovisuais baseados nas premissas mencionadas, sua relação com a ideia nostálgica de cinema e atividades ligadas ao cinema e com o próprio conceito de cinefilia, de construção de repertórios, de arquivos e memória. |
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Bibliografia | Baecque, A. de. Cinefilia: invenção de um olhar, história de uma cultura, 1944-1968. São Paulo: Cosac Naify. 2010 |